A questão dos colégios privados com contrato suscitou uma divisão ideológica num país que, depois de 40 anos de bloco central, está hoje dividido a meio. Falta, a ambos os lados, a serenidade que se exigiria.
A direita tenta fragilizar o Ministro da Educação – acreditando que este é o elo mais fraco – enquanto a esquerda se radicaliza, agitando papões há muito enterrados. Entre obstinações e direitos adquiridos, tem-se ignorado o cerne da questão. Ou seja, ninguém quer falar de uma verdade muito inconveniente, e que tem que ver com a evidente e indesmentível desconfiança que a classe média, ou o que resta desta, tem relativamente à escola pública.
De facto, e com raras exceções, o maior desejo de uma família da classe média – essa classe média que paga grande parte dos impostos – é encontrar forma de evitar que os seus filhos tenham de frequentar uma qualquer escola pública.
O que é precisamente o contrário do que sucedia há cinquenta anos. E antes que algum dos leitores venha dizer "ora, lá vem este", quero dizer que frequentei o liceu público entre o 1º e o 7º ano e tenho não apenas boas recordações mas, também, a firme convicção que essa foi uma excelente opção dos meus pais.
O que sucede é que a escola pública não se ajustou, não foi capaz de corresponder ao crescimento da procura, fruto do alargamento do ensino obrigatório e do acesso generalizado ao ensino secundário que antes não era acessível a uma parte da população. Essa incapacidade transformou a nossa escola pública num local onde tudo pode acontecer de forma aleatória.
Onde os nossos filhos podem ter sorte ou azar de ter um professor que aparece às aulas, e que pode ou não ser exemplar, competente e capaz de impor a ordem; onde podem ter a sorte ou o azar de os colegas serem mais ou menos pacíficos e obedientes; onde podem ter a sorte ou o azar de haver uma associação de pais que ajuda a escola ou interfere naquilo que não sabe.
Convenhamos: ninguém quer sujeitar os seus filhos a esta roleta russa. É por isso que, mesmo antes de se adotarem medidas extremas e monolíticas, seria importante requalificar a escola pública com medidas políticas consequentes que combatam a impunidade e recuperem a ordem e a disciplina que podem ser palavras que não estão na moda, mas são essenciais num estabelecimento de ensino.
PIGS na Galeria MunicipalA sigla PIGS, usada para referenciar os países da zona Euro cuja situação económica e financeira declinou sob o peso da austeridade, dá o título a uma exposição coletiva que questiona ironicamente o significado de "viver acima das suas possibilidades".
Depois de ter sido apresentada em Vitoria-Gasteiz, no País Basco, a exposição será inaugurada no Porto, no próximo dia 3 de junho, às 19 horas, na Galeria Municipal do Porto.
As obras apresentadas são um retrato dos paradoxos da unificação europeia e a ambiguidade contida nos discursos mediáticos sobre a relação entre os países da Europa do Norte e os países PIGS. Os artistas portugueses presentes na exposição são: Carla Filipe, Nuno Cera, Priscila Fernandes e Vasco Araújo. A entrada é livre.
O Rally e a língua portuguesaComo sabem, nunca simpatizei com o Acordo Ortográfico. Mesmo estas crónicas são escritas na antiga ordenação, que o jornal "corrige" para a nova. Vem isto a propósito de um comentário colocado no meu Facebook, criticando o facto de a classificativa do Rally de Portugal se chamar "Porto Street Stage".
A crítica sugeria que se passasse "do antigo acordo diretamente ao inglês", ironizando com o facto de se usar um estrangeirismo para designar a prova. Ora, neste caso, a designação é mesmo internacional e faz parte da nomenclatura do Campeonato do Mundo. Uma classificativa numa cidade será, por isso, para a Federação Internacional, uma "Street Stage", seja no Porto, em Barcelona ou em Buenos Aires.