Tenho um amigo chamado Pedro Marques Lopes. Temos muito em comum. Somos ambos do Porto (embora ele viva em Lisboa). Escrevemos ambos em jornais e falamos na televisão (embora eu há mais tempo). Ambos aceitámos ser cronistas de ‘A Bola’ (eu primeiro do que ele). E ambos dependemos do público para sermos o que somos (eu eleito e ele escolhido). Mas há mais em comum.
Ambos defendemos o segredo de justiça, o segredo de Estado e a presunção da inocência. Ele, ao contrário do que já fiz, nunca abandonou um programa de TV em direto, por estar a ser violado, de forma sistemática, o segredo de justiça. Já eu nunca comentei o que, supostamente e por fonte anónima, se disse ou terá dito num Conselho de Estado ou num conselho de ministros.
Dizem os cânones da política que um Presidente não deve responder a um comentador. Deve ter sido nessa presunção que, um destes dias, o meu amigo me atacou violentamente, por eu ter defendido, nesta mesma página, o segredo de Estado. E resolveu lançar, a esse propósito, sobre este jornal e sobre os seus jornalistas, um anátema preconceituoso em jeito de auto de fé, que não fundamentou. Quero dizer ao Pedro, conterrâneo e companheiro de paixão clubística, que não obedeço a cânones, não alinho por cartilhas, nem me condiciono por diretórios. Escrevo e digo, por isso, o que quero, quando quero, onde quero, sem ter que pedir licença e sem que isso prejudique a minha vidinha. E prezo a liberdade de Imprensa, regulada, claro, como nos estados de direito.
É que, ao contrário da esmagadora maioria dos políticos, fui eleito como independente e fui escolhido pelo povo da nossa terra, não precisando para ser candidato ou comentador de obedecer a credos, seitas, corporações ou diretórios. Dito de outra forma, Pedro, eu sou livre. Aceito, por isso, sem vergonha, a crítica sobre a forma como exerço a política ou como escrevo as minhas crónicas. O que já não aceito, nem mesmo dos amigos, é que, usando-me, se lancem autos de fé sobre terceiros, e muito menos seja invocada, sobre mim, superioridade moral.
Até porque na imprensa não há virgens ofendidas que possam atirar a primeira pedra. Nem sobre fontes, nem sobre segredo de justiça, nem sobre as tentativas de manipulação da opinião pública. Por mais que a vidinha esteja difícil, meu caro Pedro, e sei que está, fica descansado: não sou eu que faço parte do eixo do mal. Não faço, nem quero fazer.
Marsalis na Casa da Música A Casa da Música do Porto tem este ano um programa de verão bastante interessante, com atividades que vão desde os concertos a estágios para orquestra, mantendo assim uma atividade cultural importante na cidade. Hoje à noite, é a vez do jazz, com um concerto a não perder do célebre quarteto do saxofonista Branford Marsalis, que conta já com mais de 30 anos de carreira e de sucessos.
Com um repertório imenso de música escrita por si, Branford Marsalis constituiu um quarteto considerado modelo para outras formações do género. Ele tocou com artistas como Sting, Grateful Dead e Bruce Hornsby e foi diretor musical de The Tonight Show Starring Jay Leno. Desta vez, apresenta-se em Portugal, na Casa da Música, com Kurt Elling, cantor já premiado com o Grammy.
Habitação no centro histórico Durante muitas décadas, o centro histórico do Porto perdeu habitantes. Esta semana, a Câmara deu um pequeno passo no sentido de recuperar alguns, no caso, 130 famílias que irão habitar casas de habitação social. A medida resultou numa salutar discussão no meu Facebook, com muita gente contente e com alguns a acharem que nada resolve.
Na verdade, não acredito que uma só medida resolva um problema criado ao longo de décadas e que não se resolve por decreto. Mas, se continuarmos a insistir em construir uma cidade interessante e lhe juntarmos alguns catalisadores (como é este caso), poderemos, talvez numa geração, inverter uma lógica. Sim, numa geração, porque milagres, ninguém os espere.