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Rui Pereira

Um hino à vida

Afinal não há vida sem valor vital.

Rui Pereira 19 de Fevereiro de 2015 às 00:30

A esclerose lateral amiotrófica é uma doença neurodegenerativa que destrói as células do sistema nervoso central responsáveis pelos movimentos voluntários dos músculos. À medida que progride, determina a perda das faculdades de locomoção, fala, deglutição e, por fim, respiração. Foi esse mal terrível que matou José Afonso, privando-nos, precocemente, da voz mais límpida que cantou a liberdade em português. Há poucos meses, uma iniciativa que se serviu das novas e admiráveis maneiras de comunicar associou essa moléstia a banhos de pessoas mediáticas.

Agora, um filme encorajador, nomeado para oito Óscares, dá conta de um testemunho pessoal que nos sensibiliza para o valor da vida e para os limites da resistência humana nas circunstâncias mais adversas.

‘A teoria de tudo’ descreve o trajeto de um ser humano atingido pela doença aos vinte e um anos, quando concluía a licenciatura em Física. A doença acabou por impedir Stephen Hawking de se mover e de falar, mas não de ocupar a cátedra de Isaac Newton em Cambridge ou desenvolver trabalhos sobre os "buracos negros", a natureza do tempo e a origem do Universo.

Possivelmente, Hawking é o cientista mais famoso depois de Einstein. Para além da investigação, ainda lhe sobrou tempo para escrever obras "acessíveis" a gentios como eu (‘Breve história do tempo’; ‘O grande desígnio’), casar duas vezes e fazer três filhos. Mas, acima de tudo, tem especial significado que alguém incapaz de manter a cabeça direita e olhar para as estrelas seja uma pessoa tão apta para ver ao longe e perscrutar no "big bang" e noutras "singularidades" o único Deus em que acredita: as Leis da Física, com que substituiu o "Grande Relojoeiro" de Isaac Newton.

A vida de Hawking, que já podemos considerar longeva aos setenta e dois anos, pode ser ilustrada por palavras suas acerca da aplicação generalizada da física quântica: "O Universo não tem uma história única, mas todas as histórias possíveis, cada uma das quais com a sua probabilidade."

Noutras histórias, o cientista foi vergado pela doença ou desistiu de uma carreira de investigador universitário. Porém, bastou uma probabilidade ínfima para que esta história prodigiosa se concretizasse. Afinal, ao contrário do que pretendiam os nazis, não há vidas sem valor vital.

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