Uma vaga de frio varre a faixa de Gaza. Viver em tendas improvisadas não ajuda e, neste Natal, também ali se morreu de frio. Em Portugal, sem guerra à vista, também se morre literalmente de frio e poucos vivem em tendas. Porquê? Incapacidade de aquecer a casa, mau isolamento térmico das habitações e os altos preços da eletricidade. Há quem se recorde do antigo método nortenho de aquecer as frias casas de granito - o gado instalado na "loja" do rés-do-chão aquecia o primeiro andar. E as lareiras ajudavam a confortar corpos e almas. Na faixa de Gaza também se comemora o Natal. Resistem ali uns mil palestinianos cristãos, a maioria greco-ortodoxos, mas também 135 católicos. Muitos cristãos morreram durante os bombardeamentos israelitas. Por aquelas bandas nasceu há uns 2 mil anos um tal Jesus Cristo, numa lapa (gruta) mal aquecida. O burro e a vaca terão ajudado a aquecer o lugar. Poucos presépios foram agora construídos em Gaza a recordar o acontecimento e ainda menos Árvores de Natal. Quanto aos judeus, esses não usam presépios, ignoram a festa cristã do nascimento do judeu Jesus.
Por cá, labuta a imigrante Amina, uma guineense muçulmana do povo Fula. Passa frio na sua casita dos subúrbios lisboetas. Usa hijab, o lenço islâmico, por hábito e tradição. Pouco segue as peripécias da guerra entre judeus e muçulmanos em Gaza. Se lhe perguntam se conhece algum judeu em Portugal, sorri envergonhada. "Não sei! Não sei ver!" Como quem diz, não sabe identificar um judeu à vista desarmada. Na sua tabanca na Guiné, assimilou os costumes muçulmanos ao jeito africano. Em Portugal, este Natal, Amina decidiu fazer uma enorme árvore de Natal em casa. Porquê? "Todos os miúdos da escola do meu filho fazem a árvore! E ele também quis!" Ainda assim, um Natal sem presépio, como em muitas outras casas portuguesas.
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