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Victor Bandarra

Hassan, admirador de marine

Alguém vislumbrou uma rapariga de ‘jelaba’ a entrar no quarto.

Victor Bandarra 7 de Maio de 2017 às 00:30
Hassan era um rapaz moderno, aberto a extravagantes experiências. Estudava Gestão na Universidade de Rouen, em França, nos idos de 80. Marroquino de estirpe, e graças ao pai de linhagem, dava-se a luxos impensáveis para os colegas franceses.

Pagava um dos melhores apartamentos do Campus da cidade de Joana d’Arc. Muçulmano de raiz, planava a vida indiferente aos preceitos do Islão - bebia álcool, muito, e jamais o viram cumprir as orações diárias. Só quando viajava para Rabat enchia a mala de imaculadas ‘darijas’ (as tradicionais vestes largas). Sabia-se que era casado, mas ninguém lhe conhecia a mulher; só as namoradas, sempre louras e brancas de leite. Hassan, moreno pestanudo, escondia com sorriso frio o incómodo que lhe causavam as "bocas" de muitos franceses ao seu aspecto obviamente magrebino. E retorquia, altivo, em francês perfeito, académico, requintado.

Por esses tempos, portugueses e magrebinos cruzavam-se nos subúrbios das cidades gaulesas. Os lusitanos chegavam "a salto", moirejavam nas obras, desconfiavam dos muçulmanos e seus costumes, mas eram obrigados a privar com eles. Afinal, andavam todos ao mesmo: ganhar a vida com os trabalhos de fim de escala. Então, a Frente Nacional de Jean-Marie Le Pen era uma força política marginal. Hoje, a filha Marine é candidata a Presidente, com milhões de votos assegurados. Naqueles tempos, nem portugueses nem marroquinos se metiam em política.

Hoje, vários luso-descendentes são políticos e responsáveis governamentais. Alguns mudaram o Ferreira para Férrère. Poucos magrebinos mudaram o apelido e menos ainda fizeram carreira política. Para muitos portugueses em França, há os "bons" e os "maus" imigrantes. E muitos aceitam a mensagem inteligente de Marine - já não o anti-semitismo e racismo de antigamente, apenas a rejeição do "diferente". O Islão é o inimigo! E os "nossos" aplaudem. Certo dia, em Rouen, Hassan deu uma desbragada festarola no seu apartamento. Noitada bem regada e poliglota (havia francesas, italianas, duas suecas tipo girafa e meia dúzia de alemãs).

E os rapazes, franceses, mais um polaco e um português, além de Hassan e de um primo de Marrocos. Numa ida à casa de banho, alguém vislumbra uma rapariga de ‘jelaba’ a entrar num dos quartos. Quem é a misteriosa criatura? Hassan vê-se obrigado a confessar. "É a minha mulher!" E sorri, incomodado. "Não a podia convidar para esta festa!" Hassan conseguiu passaporte francês. Formou-se em Rouen, doutorou-se na América. Tem hoje mansão no 16º Bairro de Paris e vai votar, convictamente, em Marine Le Pen.
Hassan Rouen Arc. Muçulmano Frente Nacional de Jean-Marie Le Pen
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