Desde Moisés a Jesus Cristo, passando por César, até Mussolini e Hitler, o mundo sempre se deixou galvanizar por estes discursos. Mas há bons e maus pregadores. O bom pregador, não o vendedor da ‘banha da cobra’, nem o ‘fazedor de consciências’, para fins ilícitos ou contra a humanidade, está, em princípio, de boa fé e genuinamente interessado em mudar as coisas para melhor. Ajudando a que todos fiquem bem e preocupado com o mal-estar das pessoas. O mau pregador, aquele que está de barriga cheia e que vive por conta do erário público, exercendo cargos cuja habilitação exigida é a confiança política, só pensa nos seus interesses e na rede de influências em que se move.
Confesso que não gosto de pessoalizar as questões. O que me dá gozo é discutir ideias, projectos e princípios. Mas desta vez não resisto à tentação de transpor a barreira que impus a mim mesmo. E faço-o com a consciência da transgressão.
O que pesam os pregadores que se seguem aos bolsos dos portugueses:
Faria de Oliveira: CGD, 371 000 euros; Vítor Constâncio: Banco de Portugal, 249 448 euros; Carlos Tavares: CMVM, 245 552 euros; Guilherme Costa: RTP, 250 040 euros; Fernando Pinto: TAP, 420 000 euros; Henrique Granadeiro: PT, 365 000 euros; Cardoso dos Reis: CP, 69 110 euros; Luís Pardal: Refer, 66 536 euros; José Manuel Rodrigues: Carris, 58 875 euros. A estes valores acresce carro com motorista, cartão de crédito, telefone, ajudas de custo, subsídios de representação e de compensação, participação na distribuição dos lucros e uma reforma milionária por tempo curto de serviço.
Os valores morais da pregação, para que possam ter autoridade, precisam de exemplos que venham de cima. Como podem alguns destes pregadores pedir aos portugueses mais sacrifícios e afirmar que precisam de mudar de vidinha? Como podem pedir ao Governo que faça contenção nos salários das pessoas que mal têm dinheiro para comer e sustentar os filhos e que têm perdido, de forma grave, poder de compra. Existe na boa pregação uma integridade moral e uma fortaleza inexpugnável que deve ser mantida. A alguns destes pregadores do regime, com uma pregação chocante, falta-lhes autoridade moral para pedir sacrifícios aos portugueses, denotando uma decadência da consciência. O mundo está assim por culpa dos grandes pensadores financeiros, onde se incluem os nossos pregadores, e por ausência de mecanismos de regulação.
O ‘amoralismo’ que pregam é só para os outros. É fácil falar da vida dos que nada ou pouco têm. Como se diz nos textos bíblicos: "Não há vitória sem luta, como não há salvação sem arrependimento". Deviam lavar-se sete vezes no Jordão, para que a sua carne e alma fossem curadas e purificadas. Só assim conseguem o arrependimento para a remissão dos pecados que cometem.