É escandaloso (e um insulto) que a televisão pública tivesse ignora.
Ontem de manhã, crê-se que no uso das suas faculdades, a RTP anunciou que o espaço de "comentário" de José Sócrates estava suspenso.
Àquela hora foi humor negro – depois de uma noite negra da televisão pública. Recapitulo: a RTP Informação pôs no seu rodapé a notícia da detenção de José Sócrates às 00h23 (e, para sermos justos, um direto do aeroporto às 00h32).
As outras televisões já o tinham feito: a CMTV às 00h10, a SIC Notícias às 00h17 e a TVI 24 às 00h19. Todas apresentaram comentários, diretos, telefonemas, ajudando os telespectadores a compreender a situação. Tratava-se, afinal, do ex-primeiro-ministro; a ocasião exigia-o. Não para a RTP Informação, que, até fechar a sua informação, à 01h03, apenas mencionou o assunto duas vezes. Fechou a repartição. No ‘zapping’ subsequente, verificou-se que o assunto estava em permanência nas outras televisões (SIC e CMTV com diretos) e já na imprensa internacional.
Como um bom "canal de notícias 24 horas", a RTP Informação passou então um magazine pop pré-gravado, depois um debate sobre conflitos e dificuldades no casamento (à 01h35, quando já havia informações mais claras nas outras televisões, estava a passar um sketch cómico do ‘Porta dos Fundos’) e, por fim, um sempre atual programa sobre traumas na infância, entre outras matérias letais.
É escandaloso (e um insulto aos seus jornalistas) que a televisão pública tivesse ignorado o acontecimento. Sócrates sempre quis silenciar a imprensa, processando, insultando e aliciando – conseguiu calar a RTP Informação? Ou esta apenas protegia o colaborador que de manhã iria suspender? Não: a RTP é assim; tem as suas coisas. Um cidadão que estivesse a ver a sua televisão de serviço público teria ficado surpreendido com o silêncio e a indigência ou pensaria que a RTP estava, encolhida e incompetente, a tremer como varas verdes.
Isto não teria acontecido se se tratasse de futebol. Esta semana, foi conhecida a operação da RTP para transmitir a Liga dos Campeões – seja ou não 18 milhões de euros o valor da festa, é necessário dizer que a overdose de futebol não é uma das atribuições do serviço público. É apenas outro escândalo.
Periodicamente, há personalidades a assinar manifestos, invocar princípios e lançar desafios acerca do serviço público. Infelizmente, acabam por confundir o serviço público com a RTP. Não são a mesma coisa. Esta noite da RTP Informação prova-o: foi tão ridícula que devia fazer-nos refletir sobre a necessidade, imperiosa, de um serviço público a sério. A RTP Informação insultou todos os portugueses.