Duas magistradas do Ministério Público mandaram espiar a vida de jornalistas. Com este passo, a Justiça portuguesa já não está muito distante da Hungria de Orbán, que na Europa que respeita a separação de poderes e os direitos e liberdades de garantias dos cidadãos é apontada como um Estado quase pária.
Há uma longa tradição democrática, que respeita a liberdade de imprensa. Como os pais fundadores da democracia americana ensinaram, não há democracia sem liberdade de imprensa. E não há liberdade de imprensa se não houver proteção para o segredo das fontes. Ninguém contará nada a um jornalista, se souber que está a ser espiado. Sem fontes, sem investigação, o jornalismo acaba, a democracia sucumbe.
Não deixa de ser irónico que enquanto perseguiam jornalistas, as magistradas fizeram um trabalho que mereceu censura, quer da juíza que decidiu o processo E-Toupeira, quer do Tribunal de Relação. Em vez de se concentrarem no essencial, procuraram bodes expiatórios. Andrea Marques e Fernanda Pêgo ficam associadas a uma infame ação contra o Estado de Direito. Lembra a PIDE, não o Ministério Público de um País democrático.