Visto por alguém de fora, o debate parlamentar dá a ideia de que Portugal é um Estado assistencialista em que o primeiro-ministro se preocupa apenas com uma parte dos portugueses, os que trabalham para o Estado. A compensação salarial para os funcionários públicos por causa da perda do poder de compra é merecida, mas no País real a grande maioria dos trabalhadores do setor privado e dos trabalhadores por conta própria não vão ter esse benefício.
O Governo tem uma folga por causa da redução do défice no ano passado. E a receita fiscal alimentada pela inflação este ano permite alguma margem para a distribuição de dinheiro. Mas, por outro lado, ao agravar a despesa, está a aumentar os gastos do Estado a longo prazo e dá mais lenha para a fogueira da inflação, prejudicando ainda mais os trabalhadores que não têm aumentos.
Um País que tem uma economia anémica, que nos primeiros 25 anos deste século não passa do ritmo do caracol, com um trambolhão em cada década, e uma dívida pública gigantesca, que, apesar de ter baixado em percentagem do PIB, continua a ser das mais elevadas da Europa e do Mundo, tem um modelo de distribuição de recursos escassos, em vez de apostar num quadro de criação de riqueza para depois distribuir mais, sem colocar em perigo o futuro sustentável das finanças públicas e da economia.