A competência do almirante Gouveia e Melo na distribuição das vacinas deu-lhe uma legião de seguidores. Compreende-se facilmente. O rasto de incompetência que o antecedeu foi uma tragédia e o trabalho realizado pelo almirante e pelas Forças Armadas foi notável. No fim, como Salgueiro Maia, o almirante regressou ao quartel. Mas ao contrário do grande militar de Abril, Gouveia e Melo não aprecia o valor do silêncio.
Embevecido pela popularidade que a autoridade e a farda lhe conferiram, está apostado em construir a narrativa do patriota que não se verga. Do chefe militar implacável, que interpreta os valores pátrios como ninguém. Está no seu direito, mas convinha que, neste caso da desobediência dos 13 militares, não se produzisse uma manipulação grosseira das regras básicas de um Estado de direito. Que não se subvertesse o inquérito, transformando-o num comício, como fez na Madeira. Que o direito dos militares a um processo justo e equitativo seja intocável. Que o tribunal mediático que inventou não seja a expressão de um caso com conclusões já tiradas. Seria um desastre para todos se aceitássemos a ‘justiça’ do almirante.
Em que o próprio investiga, acusa, julga e condena. Seria mau para a democracia e para o próprio almirante. Ficaria com o rótulo de populista estampado na farda e na cara.