A ex-secretária de Estado do Turismo Rita Marques renunciou ao emprego que lhe tinha sido oferecido pela empresa que beneficiara enquanto governante. Depois de um festival de críticas, o próprio Presidente da República foi claro como a água. Trata-se de um caso muito grave, disse, tanto no plano ético como legal.
Na verdade, é quase surreal que seja necessário o Presidente e professor de Direito ditar a lei, uma das mais óbvias, simples e omissas da República, para que a senhora renunciasse. Este episódio é daqueles que mostram bem o estado a que chegámos. Uma lei feita em 1993, por um cavaquismo ansioso por esconder os seus próprios crimes, chega a 2019 sem suscitar grande vontade na casta política em criar uma verdadeira rede de blindagem e sancionamento dos conflitos de interesses.
É mostrada na sua abjeta ineficácia por uma personagem sem dimensão política, que olha para esta como um mero meio de oportunidade pessoal. Que, no fim, obriga o Presidente a exercer o seu magistério de influência em plena rua. Se os partidos acham que está tudo bem e não querem enfrentar, a sério, as condições éticas e de financiamento da política, então, é melhor fechar a porta do Parlamento e deitar a chave para o rio.