Não faltarão vozes a desvalorizar as manifestações de ontem pela materialização do direito constitucional à habitação e a uma vida condigna. Muita gente saiu à rua mas as imagens não foram tão esmagadoras como as que, no passado, impuseram a luta dos professores na agenda política. Ou as da multidão brutal que se ergueu contra os cortes da troika. No entanto, estão enganados. O significado e a importância política das manifestações de ontem são evidentes. São um forte sinal de descontentamento social, quando a espiral dos juros, a falta de casas, a especulação e rendas a escaldar atingem um zénite insuportável. São um sinal óbvio a um Governo e a um sistema político incapazes de resolverem os problemas reais dos portugueses. Governos, partidos, Presidente da República, conselhos disto e daquilo, todo o aparato de um Estado que não consegue resolver o problema da habitação, deixando-o entregue à mãozinha bem visível dos interesses do mercado imobiliário, dos fundos ou da banca, empurrando os indivíduos e as famílias para vidas precárias, servem, afinal, para quê!? Dar espaço à trica política e não às soluções, ao tribalismo partidário e não aos consensos, em matérias como a casa, a saúde, o trabalho, a educação, tenderá a reforçar a voz da rua. Com a economia piorar – e parece que a Alemanha está a ficar mais do que constipada -, admirem-se se não conseguirem controlar a indignação popular.