Eduardo Dâmaso

Jornalista

A síndrome de Napoleão

04 de julho de 2025 às 00:31
Partilhar

Não precisávamos do deprimente espetáculo de Sócrates na primeira sessão do julgamento da ‘Operação Marquês’ para perceber a sua estratégia. Sócrates não discute um facto da acusação, os milhões que recebeu, e centrou a sua tática na tentativa de obter ganhos de secretaria. Tenta esticar o processo para a prescrição e, sobretudo, procura ganhar todo o tempo para evitar o cumprimento de pena de prisão, caso venha a ser condenado. Sócrates bem sabe que este processo tem, pelo menos, dois anos de julgamento, mais uns três ou quatro de recursos posteriores. Estará perto dos 75 anos de idade, num eventual trânsito em julgado de uma sentença e, nessa altura, com o muito dinheiro que notoriamente tem, ser-lhe-á fácil arranjar uns relatórios médicos que atestem o perigo para a sua saúde e segurança à entrada numa prisão. Sócrates tem tudo isso na cabeça e na estratégia de provocação sistemática ao tribunal que protagoniza. Ontem, correu-lhe mal. Encontrou um coletivo de mão firme que clarificou facilmente a natural autoridade do tribunal. Foi como se o tivesse deixado, metaforicamente, a gritar fora da sala de audiências que o Napoleão é ele. Se isto é bom para algumas defesas, não o é para outras. Quem quiser fazer uma defesa séria e racional esbarra na toxicidade de Sócrates. E isso não é bom para ninguém.

Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?

Envie para geral@cmjornal.pt

Partilhar