A reação de Luís Montenegro ao arquivamento da Spinumviva é uma antologia de vitimização. Está ao nível do que Sócrates tem dito sobre a Justiça, da dimensão política que Cavaco quis dar quando apontou o Ministério Público como força de bloqueio aos seus Governos. Está também ao nível de políticos como Luís Filipe Menezes, que se apresentou no primetime televisivo dos anos 90, com a família ao lado, a dizer que o MP é a nova PIDE.
Invocar a sua especial qualidade de advogado para dizer que foi alvo de um verdadeiro inquérito criminal e não de uma averiguação preventiva, de foro meramente administrativo, em que foi tratado com luvas de pelica, não suscita apenas uma simpática gargalhada. Levanta, de novo, a imensa preocupação de estarmos perante alguém que recusa submeter-se às regras da transparência, que se acha portador de um poder que o coloca numa espécie de trono monárquico, que pensa poder condicionar todos os demais na avaliação dos seus atos enquanto homem público.
Montenegro escolheu o pior caminho, de desafio aos alicerces da normalidade democrática num Estado de Direito, empurrando o MP e o jornalismo para o papel de delinquentes por tendência do regime. Ao nível de Rui Rio. Convoca-nos, obviamente, para não baixar a guarda na procura de uma luz de verdade na imensa opacidade com que guarda a gestão dos seus negócios, como se eles nada tivessem a ver com a sua atividade, já longínqua, de ator político.
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