Eduardo Dâmaso

Jornalista

E não se indignam?

12 de setembro de 2025 às 00:31
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Pois não, os portugueses não se indignam com os profetas da alegada pureza originária. Só riem e gozam. Fazem muito bem! Rir ainda não paga imposto. É isso que a pergunta retórica de André Ventura merece, quando, no auge da indignação, também ela meramente retórica, projetada nas redes sociais, pergunta se não nos indignamos com a estrondosa revelação: o Presidente da República iria à Alemanha participar num festival de hambúrgueres, a expensas do Zé. Um escândalo! Pormenor: afinal, não é um festival de hambúrgueres, mas um festival de cidadania. Ventura transformou-se numa anedota, o pior que pode acontecer a um político. Como não rir de uma coisa dessas? Mas o humor não chega como ferramenta de análise deste episódio.

Ventura é um adversário político forte, como os resultados atestam, mas destapou, com este ‘hambúrguergate’, o que também é um espelho de ligeireza, fragilidade argumentativa, um produtor de desinformação, alguém que perde as estribeiras com os jornalistas, que quer mandar nas suas perguntas e ser o seu editor. Deixando-se vestir com esta farpela de um ridículo atroz, Ventura deveria saber que o dito ridículo mata, em geral, mas é particularmente impiedoso na política. O ridículo esmaga qualquer reputação e, desta vez, a de Ventura ficou reduzida a carne picada, de hambúrguer assim mais rasca. 

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