A fiscalização pública de pontes, viadutos e mesmo barragens sempre foi um problema. No caso das pontes precisamos de regressar à tragédia de Entre-os-Rios para perceber um contexto que nunca nos largou.
Na época, o encargo era da Junta Autónoma das Estradas (JAE), essa caverna da maçonaria, da tecnocracia influente, do bloco central das negociatas. O famoso grupo dos Sete Magníficos, um grupo de senhores engenheiros de relações íntimas com a fina flor dos empreiteiros da época, dominou orçamentos fabulosos, devidamente oxigenados pelos fundos da Europa, que alimentaram tudo. Das obras à publicidade das mesmas, dos sacos azuis das inaugurações a esquemas políticos.
Quando cai a Ponte de Entre-os-Rio ficamos a saber, nos documentos do processo judicial, do Parlamento, de outras entidades, que não havia nem regras nem dinheiro para as vistorias e manutenção das pontes. Havia uma Divisão de Conservação de Pontes, na JAE, mas como disse um dos seus responsáveis no julgamento, não fazia nem tinha dinheiro. Esse passado foi objeto de uma sindicância mas nunca verdadeiramente extirpado. Como se percebe hoje, quando o investigador do Elevador da Glória assume que não se sabe qual é a entidade pública responsável por fiscalizar a manutenção deste equipamento. Pensávamos que esse tempo sem regras e sem responsabilidade tinha ficado lá atrás, mas, afinal, estamos muito enganados.
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