Armando Esteves Pereira

Diretor-Geral Editorial Adjunto

O furacão Ventura

11 de março de 2024 às 00:31
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Em outubro de 2019, André Ventura entrou no Parlamento. Pela primeira vez, a direita à direita do CDS e do PSD conseguiu um lugar na Assembleia da República. Em 2022, o protagonismo do deputado, verdadeiro dono de um partido unipessoal, levou a um grupo parlamentar de 12 eleitos. E agora cresceu tanto que a direita não conseguirá governar sozinha, sem o seu aval. Há um furacão na política portuguesa que não pode ser ignorado.

De uma forma aritmética simples, pode-se dizer que a erosão de votos e deputados socialistas conquistados por Costa foram para o cabaz do Chega. Provavelmente, a transferência não foi direta, muitos eleitores de Costa podem ter ido para a abstenção e antigos abstencionistas aderiram aos encantos de Ventura. O Chega ocupa um território que tradicionalmente era o dos partidos à esquerda do PS, o voto de protesto, dos revoltados com o sistema, pessoas zangadas, o voto da periferia. É uma função tribunícia importante na democracia, que agora passou da extrema-esquerda para a direita. Não deixa de ser irónico que 50 anos depois do 25 de Abril um partido de extrema-direita tenha perto de 50 deputados, quando no início do atual regime constitucional, o partido mais à direita e com aspirações de poder era o CDS, mas com a bola ao centro. É um erro estigmatizar os eleitores do Chega. Todos os votos merecem respeito e a votação do partido de Ventura é um cartão amarelo aos dois partidos dominantes.

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