Na ressaca da greve geral, o Governo ficou com mais problemas do que os que tinha antes. A discussão dos números de adesão não contorna a questão política essencial: o Governo perdeu o embate, a base social da censura alargou-se. Viu chumbada a proposta, o método, de expressiva arrogância, a chantagem sobre a UGT, o simulacro de negociação, a sua visão de um mundo de favorecimento de certo tipo de patronato, que quer despedir rápido, barato, a estigmatização do movimento sindical. O Governo sai com menos possibilidades de viabilizar o diploma e obrigado a uma renegociação que, na verdade, deveria partir do zero e ser feita em sede de concertação social, englobando os desafios da IA e da digitalização. Pode demorar? Pode. Mas é melhor fazer um caminho aberto à negociação, do que um caminho autoritário. Se for por aí, o Governo limitar-se-á a organizar uma pantomima lampedusiana. Muda meia dúzia de artigos acessórios para que tudo fique na mesma. Se contornar este clássico da hipocrisia política, pelo contrário, poderá fazer uma real reforma, respeitando a dignidade do trabalho face à tecnologia e o equilíbrio da relação contratual, num momento em que o País precisa de moderação e bom senso. Afinal, o Governo precisa de ouvir alguns empresários do seu próprio campo, que têm sido implacáveis a apontar as fragilidades do pacote laboral, e não a propaganda ridiculamente criativa de figuras como Leitão Amaro.
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