Armando Esteves Pereira
Diretor-Geral Editorial AdjuntoSangue português
11 de junho de 2025 às 00:31No tempo do Estado Novo o 10 de junho era o "dia da raça", mas nem os próceres desse regime autoritário acreditavam no protótipo do português puro. Portugal é a soma de todas as misturas desde os povos que cá chegaram primeiro, com celtas, celtiberos, lusitanos, gregos, fenícios , os romanos que derrotaram os lusitanos e trouxeram as bases da administração e da língua, dos suevos, visigodos, dos mouros que conquistaram o território, dos cruzados que vieram reconquistar, dos judeus tantas vezes perseguidos, dos africanos e de tantas pessoas das mais diversas origens, do Brasil, China e Índia.
E continua a ser assim: ser português não é definido pela cor da pele, é uma questão de sentimento de pertença a uma comunidade. E não é preciso ter nascido aqui para ser português ou morar cá para o ser, como aqueles descendentes dos que há 500 anos rumaram ao oriente e hoje em Malaca ainda se sentem portugueses. Mas esta semana o melhor exemplo contra a xenofobia é Nuno Mendes, filho de imigrantes, menino de um bairro pobre de Casal de Cambra, um genuíno herói português que domingo nos deixou a todos felizes, com o seu génio e arte. Ser português e racista é um paradoxo, uma contradição nos termos. Como ontem lembrou Lídia Jorge “ninguém tem sangue puro”. E isso é fabuloso porque é a grande aventura da humanidade.
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