Portugal sob pressão com rede 5G chinesa
Americanos avisam que perderão confiança em Portugal com equipamentos da Huawei.
O aviso chegou pelo embaixador norte-americano em Lisboa: Portugal tem de optar entre os “aliados” Estados Unidos da América e o “parceiro económico” China. Se escolher o segundo, corre riscos de segurança, explicou George Glass ao ‘Expresso’. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva já veio dizer que, “em Portugal, quem toma as decisões são as autoridades portuguesas”.
Em causa está o leilão de 5G no país, previsto para o final do ano, que poderá ditar a entrada da Huawei na rede. A empresa chinesa tem sido alvo de várias acusações, sobretudo de espionagem, por parte da administração de Donald Trump.
Glass admitiu que, se Portugal tiver equipamentos 5G da Huawei, a relação bilateral sairá prejudicada. “Se não tivermos [confiança nas telecomunicações], teremos de mudar a forma como comunicamos com Portugal”, afirmou. Segundo Santos Silva, o Governo português tem já estas questões de segurança acauteladas, através de uma “paleta de instrumentos”.
Ao ‘Expresso’, o embaixador criticou o investimento chinês no país e disse ainda esperar que a construção e gestão do novo terminal do porto de Sines - para a distribuição de gás natural liquefeito americano - “não vá para os chineses” . Se tal acontecer, a distribuição estará comprometida, advertiu. Em resposta, Santos Silva lembrou que Portugal é uma economia “aberta a todo o investimento estrangeiro”, desde que “cumpra a lei” nacional.
O CM procurou a reação dos grupos parlamentares, mas só PCP e PAN estiveram disponíveis. O comunista António Filipe classifica como “inaceitável” a pressão do embaixador. “Parece entender que Portugal é uma colónia dos Estados Unidos”, lamentou. Já Bebiana Cunha, do PAN, insiste que “Portugal não deve ceder a este tipo de ultimato” no seio de uma guerra comercial. Ambos elogiaram a resposta de Santos Silva.
Dados móveis até 100 vezes mais rápidos do que hoje
Uma das principais vantagens do 5G é a velocidade dos dados móveis, que pode chegar a ser 100 vezes superior ao desempenho atual. A nova tecnologia traz também menor latência, isto é, o tempo de espera entre a pesquisa e o surgimento de informação no ecrã. Esta última característica pode ser determinante para desenvolver tecnologias como os veículos autónomos ou a realidade virtual.
Primeira empresa a operar em Portugal envolta em polémica
A primeira empresa a operar a rede 5G em Portugal foi a Dense Air. Esta semana fez a primeira videochamada com a tecnologia, contando com a presença do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos. O episódio gerou críticas das operadoras de telecomunicações, que alertam que a Dense Air está em situação ilegal, ao manter, desde 2010, licença para explorar uma faixa de rede considerada necessária para o 5G, que já deveria ter sido revogada.
A Comissão Europeia lançou, em janeiro, um documento com diretrizes para a entrada do 5G nos estados-membros, admitindo que existem riscos de segurança. Bruxelas chega a aconselhar os cenários de limitação ou exclusão de fornecedores.
O Governo alemão recusou proibir a entrada da Huawei na lista de fornecedores da tecnologia 5G no país, admitindo contudo um controlo mais apertado nas regras de segurança.
Alegando questões de segurança, o Reino Unido decidiu banir o 5G da Huawei, impedindo que os operadores britânicos recorram a estes sistemas. Foi já criado um grupo de especialistas para a procura de fornecedores alternativos.
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