Comissário Europeu quer "bússola cultural" partilhada e melhores condições para profissionais
Rumo que Glenn Micallef pretende ver traçado deve assentar nos valores europeus -- inclusive o de que "as artes e a investigação científica estarão livres de restrições".
O comissário europeu para a Equidade Intergeracional, Juventude, Cultura e Desporto defendeu esta quarta-feira a necessidade de definir uma "bússola cultural" para toda a Europa e melhorar as condições de trabalho dos artistas e profissionais do setor.
"Precisamos de uma bússola cultural para a Europa e devemos todos trabalhar para avançar com esta missão partilhada", defendeu o maltês Glenn Micallef em Santa Maria da Feira, na abertura do seminário internacional "Redes Culturais num mundo em mudança - O que são e para que servem?".
O comissário europeu começou por explicar que essas suas prioridades -- a estratégia partilhada e a defesa laboral do setor -- se devem ao contexto internacional atual, marcado pelo ritmo acelerado de avanços tecnológicos como a Inteligência Artificial, profundas alterações demográficas, o aumento do custo de vida, "a escalada das dificuldades habitacionais", uma "crise silenciosa de saúde mental, sobretudo entre os jovens", e guerras várias, "não apenas territoriais, mas também de ideias, desinformação e valores".
Glenn Micallef referiu-se depois à visita que fez em fevereiro à Ucrânia -- "isso mudou profundamente a minha forma de pensar", admitiu -- para realçar porque é que, ao contrário do que muitos alegam, "a cultura não é um privilégio reservado a apenas alguns e sim uma necessidade central para a identidade" dos povos.
"As tropas russas estão a atacar estrategicamente marcos culturais e esses estragos não são danos colaterais -- são um esforço calculado para minar a identidade e o moral dos ucranianos", afirmou.
É pela perceção dos riscos implícitos nessas e outras formas de ataque ao património e à identidade que o comissário considera que "a Europa deve permanecer uma potência cultural global" e aponta a Cultura como o seu próprio instrumento "de defesa primária".
O rumo que Glenn Micallef pretende ver traçado em conjunto deve assentar nos valores europeus -- inclusive o de que "as artes e a investigação científica estarão livres de restrições" -- e ter como pilar também "as pessoas", enquanto agentes e guardiãs do património.
Glenn Micallef explica a sua visão com uma referência tácita a salários: "A cultura deve pagar a renda. A cultura cria empregos, estimula a economia local, inspira o turismo e atrai investimento, mas, mais do que isso, cria coesão e confiança, e é por isso que melhorar as condições de trabalho dos artistas e os profissionais culturais é uma das prioridades do meu mandato".
No mesmo evento do distrito de Aveiro e Área Metropolitana do Porto, a ministra da Cultura, Margarida Balseiro Lopes, apontou o seu domínio de intervenção como um dos que preocupam os jovens portugueses e referiu que "o Governo está a desenvolver um programa nacional de Juventude" que encara como "um instrumento de política pública pensado para dar espaço às ideias" dessa faixa específica da população.
Jorge Vultos Sequeira, presidente do Conselho Metropolitano do Porto e chefe da delegação portuguesa no Congresso dos Poderes Locais e Regionais do Conselho da Europa, mencionou a ameaça dos radicalismos e sistemas totalitários antes de afirmar: "A Cultura é uma questão de emergência nacional. Vivemos um período em que a desinformação, o obscurantismo e a radicalização progridem a passos largos e o que nos pode salvar deste holocausto é a defesa da Cultura como instrumento de entendimento e cooperação entre países e entre os povos".
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