Costa chama primeiro-ministro a Passos

Costa comete gaffe durante o debate quinzenal no Parlamento.

29 de janeiro de 2016 às 10:34
António Costa Foto: António Cotrim/Lusa
Partilhar

António Costa protagonizou na manhã desta sexta-feira um momento caricato no Parlamento, ao tratar por duas vezes o deputado Pedro Passos Coelho, do PSD, como "senhor primeiro-ministro". Aconteceu durante o debate quinzenal.

Pub

Na sua intervenção, o presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, confrontou o primeiro-ministro com as críticas ao esboço de Orçamento do Estado para 2016, mas antes pediu-lhe que reconhecesse o trabalho do anterior executivo em matéria de modernização administrativa - tema do discurso inicial de António Costa.

"Eu compreendo e respeito a dificuldade que o senhor primeiro-ministro tem em libertar-se dos últimos quatro anos. Há de compreender que o meu dever é governar o dia de hoje com os olhos postos no futuro e não passar o tempo a alimentar consigo um debate sobre o seu passado", respondeu-lhe António Costa.

Pub

Em seguida, o chefe do Governo do PS voltou a chamar "senhor primeiro-ministro" ao presidente do PSD, causando ruído no hemiciclo, mas depois corrigiu: "Senhor deputado Pedro Passos Coelho, com toda a cordialidade, convido-o a vir para o presente, porque no presente é muito bem recebido".

Sérgio Godinho citado

António Costa abriu o debate quinzenal na Assembleia da República citando o músico Sérgio Godinho, que cantou que "a sede de uma espera, só se estanca na torrente".

Pub

O primeiro-ministro insistiu na urgência da recuperação dos rendimentos dos portugueses, na correção da asfixia fiscal e na redução das desigualdades para possibilitar "uma navegação tranquila" e "com rumo certo".

"Este Governo e esta maioria parlamentar foram os primeiros a reconhecer a urgência que o país e os portugueses sentiam relativamente à recuperação dos seus rendimentos, à correção da asfixia fiscal, à redução das desigualdades. Depois destes brutais anos de austeridade, temos de gerir com inteligência a torrente, transformando a sua força em energia e progressivamente ir alargando as margens, aplacando a velocidade a que corre o caudal, permitindo navegação tranquila e com rumo certo", declarou o líder do executivo.

Metas europeias

Pub

Costa disse que vai cumprir as metas europeias em matéria de défice orçamental mas garantiu também que irá respeitar os acordos parlamentares com os partidos à esquerda e o que prometeu aos cidadãos.

Em resposta a Catarina Martins, a porta-voz do Bloco de Esquerda (BE) no debate quinzenal, Costa reconheceu que em matéria de política orçamental PS e bloquistas não estão sempre "100% de acordo", mas assegurou: "Relativamente aos 20% em que não estamos em acordo, eu assumo essa quota".

E prosseguiu: "Nós faremos tudo para cumprir as metas previstas para o défice orçamental. Mas há uma coisa que gostaria de deixar claro: é que o faremos sem sacrificar os 80% em que estamos de acordo".

Pub

Na resposta, Catarina Martins definiu como "importante" a consolidação orçamental de Portugal, mas advogou que "nenhum país tem as contas em ordem quando as pessoas são pobres ou obrigadas a emigrar".

Na sua interpelação ao primeiro-ministro, a bloquista começou por tecer críticas à Comissão Europeia, que "nada diz" sobre o "confiscar de bens dos refugiados" pela Dinamarca mas que faz "rondas de imprensa para atacar o esboço orçamental português".

"Que a direita, que o PSD, venha aqui a este plenário atacar o país utilizando a Comissão Europeia como pretexto, tenham ou não tenham bandeirinha na lapela, diz tudo sobre a direita e o facto de nunca serem capazes de defender Portugal", prosseguiu a porta-voz do Bloco.

Pub

Venda do Banif

Catarina Martins foi também crítica para com Bruxelas e o seu papel na venda do Banif ao Santander: o executivo comunitário, declarou, está "verdadeiramente a assaltar" Portugal, dizendo-se ao mesmo tempo "tão preocupada com o défice" mas fazendo o país "gastar três mil milhões de euros com uma conta que não é sua".

Depois, incentivou António Costa e o seu executivo nas negociações europeias: "Há uma maioria no parlamento e uma força no parlamento que apoia o Governo [e] com coragem de fazer frente a Bruxelas".

A reta final da troca de palavras parlamentares entre Catarina Martins e António Costa foi dedicada à habitação, com a bloquista a pedir garantias ao governante sobre se as pessoas "que precisam de ter o direito à habitação" não irão ser despejadas das casas onde moram.

Pub

Costa garantiu o "direito à habitação" como uma das prioridades do seu executivo e vincou, lembrando a sua posição quando foi presidente da Câmara de Lisboa, que a renda nos casos de apoios sociais "tem de ser calculada não por base no rendimento bruto mas no rendimento liquido".

"Necessitamos de uma nova geração de políticas de habitação", prosseguiu o chefe do Governo.

Descentralização de competências

Pub

O primeiro-ministro anunciou um conjunto de medidas de descentralização de competências e para a modernização e simplificação administrativa, através da contratação de jovens quadros qualificados e da criação de um laboratório de projetos inovadores.

"Sendo o início do ano de 2016 muito marcado por este tempo da urgência de relançar a economia portuguesa, de recuperar as fraturas sociais da austeridade, de combater a precariedade, é também em 2016 que começa a preparação do futuro", declarou António Costa na abertura do debate quinzenal na Assembleia da República, justificando o tema da sua intervenção inicial.

De acordo com o primeiro-ministro, um dos passos da sua reforma é o da "qualificação dos trabalhadores da administração pública".

Pub

"É por isso fundamental retomar a renovação de quadros da administração pública, através da contratação de jovens qualificados permitindo a sua vinculação à administração pública em centros de competências transversais", defendeu.

António Costa falou ainda na criação do 'Laboratório/Incubadora para a Inovação Pública e Social', no qual "serão testados projetos inovadores para a administração pública, designadamente o desenvolvimento das provas de conceito de medidas inscritas no Simplex para 2016".

Transparência orçamental

Pub

O primeiro-ministro e o presidente do PSD trocaram hoje acusações a propósito do esboço orçamental, com Passos Coelho a falar em "manipulação" de dados e António Costa a responder-lhe que "é a sua credibilidade que está em causa".

Durante este confronto, no debate quinzenal, no parlamento, Passos Coelho referiu que a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) que funciona junto do parlamento "chamou mesmo à atenção para a violação que só pode ser considerada grave de manipulação de classificação de dados orçamentais", observando: "Felizmente nunca passei pelo embaraço de ter um ministro das Finanças que tivesse de ser corrigido dessa maneira pela UTAO".

Na resposta, António Costa, alegou que a dúvida entre classificar medidas como temporárias ou estruturais decorre de informações prestadas pelo anterior executivo PSD/CDS-PP à Comissão Europeia, como os cortes de salários e pensões. "O que está em causa nestas discussões técnicas não é a nossa credibilidade. É, infelizmente, a sua credibilidade, e as duas palavras que disse aos portugueses e à União Europeia".

Pub

CDS diz que António Costa "estampou-se" com OE

O líder parlamentar do CDS-PP, Nuno Magalhães, afirmou que o primeiro-ministro, António Costa, "estampou-se" com um esboço de Orçamento do Estado assente "numa fezada", e "vai levar também o país a estampar-se".

"O senhor estampou-se e, o que é mais grave, vai levar também o país a estampar-se. Isso é que nos preocupa", afirmou Nuno Magalhães, dirigindo-se ao primeiro-ministro no debate quinzenal no parlamento, quando falavam do esboço orçamental, que inclui um aumento do imposto sobre os produtos petrolíferos.

Pub

O líder parlamentar centrista usou uma metáfora automóvel após António Costa ter dito que o CDS agora vai ser "o partido dos automobilistas".

Magalhães disse que o CDS recusa validar um esboço orçamental "assente em bases não realistas, não credíveis, e não exequíveis": "Desde logo porque a história nos ensina que países que fazem orçamentos artificiais são as primeiras vítimas da ilusão dos seus governos".

Referindo-se à "unanimidade tão completa fora e dentro o sobre a credibilidade de um esboço" usou a imagem de uma consultora como síntese.

Pub

"Numa ideia, a Deloitte resume tudo: este projeto de Orçamento baseia-se numa fezada e não na realidade", afirmou.

PCP: Governo PSD/CDS ou enganou portugueses ou Bruxelas

O secretário-geral do PCP e o primeiro-ministro concordaram esta quinta-feira em sugerir que o anterior executivo PSD/CDS-PP ou enganou os portugueses ou enganou a Comissão Europeia sobre o caráter temporário ou definitivo dos cortes de rendimentos.

Pub

O debate parlamentar quinzenal com o primeiro-ministro tem estado centrado nas dúvidas colocadas por Bruxelas ao esboço de Orçamento do Estado para 2016, nomeadamente sobre a forma como a reposição de salários ou a eliminação da sobretaxa de IRS são comunicadas às instâncias europeias.

"As preocupações de PSD e CDS têm a ver com outras questões - andou por aí muito contrabando. Durante quatro anos, andaram a dizer aos portugueses que os cortes eram temporários, mas à Comissão Europeia que eram definitivos. Esta manobra ficou agora a descoberto, ficou claro que enganaram os portugueses", afirmou Jerónimo de Sousa.

O chefe do Governo socialista, António Costa, aconselhou ironicamente prudência ao líder comunista por não saber "quem é que (Passos Coelho e Paulo Portas) enganaram - se enganaram a  Comissão Europeia ou se estavam a enganar os portugueses".

Pub

"Só saberíamos se tivessem continuado no Governo. Estaríamos agora a saber se aquilo que era temporário, afinal era definitivo. Sabemos bem que nunca tiveram pudor em enganar os portugueses, como fizeram na [devolução da] sobretaxa de IRS relativamente a 2015", disse Costa.

Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?

Envie para geral@cmjornal.pt

Partilhar