Governo revê proteção do lobo ibérico e atualiza indemnizações por ataques
António Leitão Amaro observou que para se proteger o lobo ibérico também é necessário "defender o modo de vida humano e as suas condições".
O Governo aprovou esta quarta-feira a revisão do regime da proteção do lobo ibérico, atualizando as regras de pagamento de indemnizações aos produtores pecuários por danos causados por ataques, anunciou o ministro da Presidência.
"Atualizámos e alterámos as regras de pagamento de indemnização aos produtores pecuários que são afetados e que são aqueles que acabam por estar na linha de frente de suportar uma decisão coletiva, que é proteger ou respeitar a proteção deste animal raro, que é o lobo ibérico", afirmou António Leitão Amaro na conferência de imprensa relativa à reunião semanal do Conselho de Ministros.
De acordo com o governante, em algumas zonas do país, como na região de Trás-os-Montes, "têm crescido os ataques de lobo ibérico" a animais de explorações e produções pecuárias.
"Para podermos ter esta proteção, temos também que cuidar daqueles que sofrem com a existência dessa proteção, compensando-nos naturalmente com (...) este impacto que resulta para eles pontualmente, mas que é grave, quando lhes bate à porta, de terem os seus animais mortos por lobo ibérico", salientou.
Leitão Amaro observou que para se proteger o lobo ibérico também é necessário "defender o modo de vida humano e as suas condições".
"Nem é ecofundamentalismo, nem é econegacionismo. É equilíbrio. Queremos proteger o ambiente, queremos proteger as espécies animais, queremos proteger a qualidade de vida (...) e as condições de vida das pessoas", sustentou.
A reversão do declínio do lobo em Portugal é o objetivo do "Programa Alcateia 2025-2035", que contempla a recuperação e proteção de habitats, a presença de alimento e a redução do conflito com o homem.
O "Programa Alcateia" aplica-se sobretudo às áreas de presença do lobo em Portugal, especialmente a região norte do continente, mas estende-se também mais para o interior sul, até ao distrito de Portalegre.
Tem quatro objetivos estratégicos: garantir condições ecológicas mais favoráveis à conservação do lobo, melhorar a coexistência com as atividades humanas, reforçar a monitorização e conhecimento, e sensibilizar para a conservação.
O programa foi apresentado em julho no Ministério do Ambiente pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e com ele pretende-se a recuperação e proteção de habitats em locais onde existem lobos, mas também de onde estes desapareceram nos últimos anos.
Pretende-se também a promoção de presas selvagens, como o corço, e a redução da mortalidade por causas não naturais.
O programa contempla ainda a conservação e recuperação de corredores ecológicos, reforçando a ligação a áreas de lobos de Portugal e Espanha, e a redução do conflito associado aos ataques de lobos a animais como ovelhas, melhorando e agilizando o sistema de compensação de prejuízos e a promoção de uma melhor proteção do gado.
O Governo quer ainda reforçar a sensibilização, a vigilância e a fiscalização, para "promover uma maior consciencialização para a importância da conservação do lobo, bem como a prevenir atividades ilegais", como a colocação de armadilhas de laço e de iscos com veneno.
Promover a valorização cultural e económica do lobo, para que a presença da espécie se possa refletir em benefícios para as comunidades é outro objetivo, bem como melhorar a cooperação com Espanha para implementar medidas que potenciem a conectividade entre as áreas de presença de lobo.
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