Morreu o vereador da Cultura do Porto
Paulo Cunha e Silva não resiste a enfarte do miocárdio.
O vereador da Cultura da Câmara do Porto morreu esta quarta-feira de madrugada devido a problemas cardíacos.
O presidente da autarquia já decretou três dias de luto municipal, as cerimónias fúnebres realizam-se na quinta-feira, pelas 14h00, na igreja da Lapa. O corpo encontra-se a partir das 17h00 desta quarta-feira em câmara ardente no Teatro Rivoli
Paulo Cunha e Silva tinha 53 anos e, segundo apurou o CM, foi vítima de um enfarte do miocárdio em casa, em Matosinhos, durante a madrugada desta quarta-feira (pelas 03h00). O corpo de Paulo Cunha e Silva foi depois levado para o Instituto de Medicina Legal do Porto.
Licenciado em Medicina, era mestre e doutor pela Universidade do Porto, onde foi Professor de Anatomia. Era professor de Pensamento Contemporâneo na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Paulo Cunha e Silva foi um dos principais responsáveis pela programação do Porto 2001 e colaborava há vários anos com a Fundação de Serralves, a Fundação Gulbenkian, além de ser presidente da Comissão de Cultura do Comité Olímpico Português.
Cratividade e talento
O secretário de Estado da Cultura, Nuno Vassallo e Silva, lamentou a morte, sublinhando a criatividade e talento com que marcou a cidade do Porto.
Numa nota de pesar, o secretário de Estado aponta Paulo Cunha e Silva como "um intelectual e vulto destacado da cena cultural portuguesa, enquanto crítico de arte, líder de opinião, consultor e professor".
Como vereador da Cultura, "através da sua criatividade e talento marcou, de forma modelar, a imagem cultural do Porto, assumida pela própria cidade, sendo um exemplo a replicar a nível nacional", sublinha ainda Nuno Vassallo e Silva na nota de pesar, acrescentando que "a todos os níveis, o súbito desaparecimento de Paulo Cunha e Silva representa uma grande perda".
"Enorme perplexidade"
O presidente da Fundação de Serralves, Braga da Cruz, manifestou esta quarta-feira o seu pesar e "enorme perplexidade" com a morte do vereador Paulo Cunha e Silva que, em seu entender, "revolucionou a cultura" no Porto.
"Ficamos todos em estado de enorme perplexidade, muito particularmente, porque ainda ontem [terça-feira] à noite o Paulo Cunha e Silva esteve em Serralves a abrir a retrospetiva da filmografia do Manoel de Oliveira", disse o presidente de Serralves, em declarações à Lusa.
Luís Braga da Cruz recordou a conversa que manteve com o vereador da Cultura, que morreu esta quarta-feira de madrugada devido a problemas cardíacos.
"Falamos desta colaboração entre a Fundação de Serralves e a Câmara do Porto. Achei curioso que o Paulo disse que quando uma pessoa desaparece, como o Manoel de Oliveira, quando já todas as homenagens lhe foram feitas, quando já não é possível dar mais o nome a uma rua, escrever mais um livro, o que é necessário é perpetuar a sua memória e a importância do seu trabalho para a cidade e para o país onde vivemos", disse.
"Grande contributo"
O presidente do Conselho de Fundadores e o Conselho de Administração da Fundação Casa da Música destacaram esta quarta-feira o "grande contributo e entusiasmo" dado às artes e à cultura pelo vereador Paulo Cunha e Silva, falecido esta madrugada.
"Paulo Cunha e Silva foi um grande agitador cultural, com enorme capacidade de divulgar atos e manifestações de criatividade, de cultura e de cidadania. Enquanto vereador da Cultura da Câmara do Porto, iniciou uma nova relação da Cultura com a cidade, com uma atitude inovadora de envolvimento da população", refere o comunicado subscrito pelo presidente do conselho de fundadores da Casa da Música, Luís Valente de Oliveira, e pelos sete membros do conselho de administração da instituição.
Na nota de imprensa enviada à Lusa sobre a morte do vereador da Cultura da Câmara do Porto, a Fundação Casa da Música quis prestar a Cunha e Silva "a mais sentida homenagem, reconhecendo o grande contributo e entusiasmo que sempre incutiu à promoção das artes e da cultura, bem como a ligação destas às áreas da ciência e do pensamento".
"Rosto vísivel das políticas públicas"
O vereador do PSD na Câmara do Porto Ricardo Almeida sublinhou esta quarta-feira que o vereador da Cultura da autarquia, que morreu esta madrugada, foi "o rosto mais visível da afirmação das políticas públicas do atual executivo".
Num comunicado enviado à Lusa, Ricardo Almeida elogiou ainda o "dinamismo único" e o "trabalho de excelência" de Paulo Cunha e Silva ao serviço da Cultura da cidade.
"Paulo Cunha Silva foi durante dois anos o rosto mais visível da afirmação das políticas públicas do atual executivo camarário. Colocou a cidade do Porto num patamar onde não estava. E fez esta mudança de paradigma sem necessitar de dizer mal do passado", afirmou Ricardo Almeida, um dos três vereadores eleitos pelo PSD na Câmara do Porto, que explicou à Lusa estar a falar "em nome pessoal".
Para Ricardo Almeida, o vereador da Cultura "conduziu a sua ação pela positiva e afirmou o seu trabalho de excelência com um dinamismo único".
Entretanto, a Câmara de Gondomar aprovou por unanimidade um voto de pesar e Marco Martins, presidente daquele município, vincou que o vereador era uma "figura incontornável".
Rui Moreira assume o cargo
Ainda segundo informações dadas à Lusa por Nuno Santos, adjunto do autarca Rui Moreira, o presidente da Câmara deu também instruções para que "se mantivesse toda a programação" cultural da cidade, por entender que seria "essa a vontade" de Paulo Cunha e Silva.
Quanto ao preenchimento do lugar deixado vago por Cunha e Silva, a mesma fonte referiu que será ocupado de acordo com a lei, sendo chamado para integrar o executivo o sétimo membro da lista de independentes apresentada a eleições ou um dos seguintes.
Uma figura incontornável da cultura
O secretário-geral do PS lamentou hoje a morte do vereador da Câmara do Porto Paulo Cunha e Silva, considerando que foi uma figura "incontornável" da cultura portuguesa, domínio em que deixou "uma marca inesquecível".
Numa nota enviada à agência Lusa, em seu nome pessoal e do PS, António Costa salienta que Paulo Cunha e Silva "foi até ao último dos seus dias uma figura incontornável da cultura portuguesa, com relevantes serviços prestados à cidade do Porto e a Portugal".
"Com um pensamento cultural muito impressivo, a que associou sempre uma capacidade de iniciativa e de fazer acontecer nas várias funções que desempenhou ao longo da sua vida - de Serralves ao Porto 2001, Capital Europeia da Cultura, até vereador da Câmara Municipal do Porto, entre tantas outras -, deixa-nos a todos uma forte marca que não nos podemos esquecer. Lembro ainda, com muita amizade e gratidão, o seu ainda recente contributo nos trabalhos da Convenção Nacional do PS, de junho de 2015, onde deixou também uma intervenção marcante para todos os que nela participaram", escreve o líder socialista.
António Costa aponta ainda que uma das últimas iniciativas a que Paulo Cunha e Silva deixou o seu nome associado - e mais um dos legados que deixa à cidade do Porto a Portugal - tenha sido o 'Fórum do Futuro', sob o tema 'Felicidade'.
"Grande inteligência e lucidez"
O candidato presidencial António Sampaio da Nóvoa elogiou hoje a "grande inteligência e lucidez" do vereador da Câmara do Porto Paulo Cunha e Silva, falecido esta madrugada.
No arranque de uma conferência de imprensa em Lisboa, na sua sede de campanha, Sampaio da Nóvoa quis deixar uma "palavra de profunda admiração" a Paulo Cunha e Silva.
O autarca, declarou o candidato a Belém, entendia a "importância da cultura e do conhecimento na vida das cidades e dos países" e ajudou a projetar "uma nova imagem do Porto e de Portugal no mundo".
Câmara de Lisboa elogia estreitar de laços entre autarquias
A Câmara de Lisboa aprovou hoje um voto de pesar pela morte de Paulo Cunha e Silva, vereador na congénere do Porto, saudando a sua "visão alargada da cultura" que permitiu "estreitar laços" entre as duas autarquias.
Num comunicado, a autarquia lisboeta "manifesta o seu mais profundo pesar e solidariedade institucional por esta perda irreparável".
"Ressalvando o seu caráter positivo e o intenso pragmatismo em prol do fazer pela cidade, resta-nos, em sua memória, empenharmo-nos continuamente em aproximar as cidades do Porto e de Lisboa, alicerçando esta ligação na ciência e na cultura, beneficiando das diversas transversalidades potenciadas pelo cruzamento de saberes", acrescenta a nota de imprensa.
O comunicado acrescenta que, na reunião de câmara de hoje, a Câmara de Lisboa "aprovou um voto de pesar subscrito pela totalidade dos seus vereadores e pelo seu presidente, Fernando Medina", por "proposta da vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto".
PS do Porto lembra "gigante da cultura"
A concelhia do PS do Porto lamentou hoje a morte de "um gigante da cultura do Porto" lembrando Paulo Cunha e Silva como "um homem brilhante, inquieto e pensador-actor de uma cidade completa, cosmopolita e aberta".
"Apaixonado pela vida e pelo Porto, foi um visionário na política de renascimento cultural na cidade e deixa um vazio muito difícil de superar", recorda em comunicado o líder da concelhia, Tiago Barbosa Ribeiro.
O presidente da comissão política destaca ainda como o antigo vereador da Câmara do Porto "refletiu, como poucos, sobre as políticas culturais e executou-as como nenhum outro"
"A sua marca torrencial na cidade líquida vai perdurar na nossa memória a ação", assinala.
Também a concelhia do BE do Porto emitiu uma nota de pesar pela morte de Cunha e Silva, "um homem permanentemente inquieto, sempre a questionar o mundo e a relação entre a arte, a cultura, a ciência e o pensamento".
Rui Moreira lamenta perda de "génio" da cultura
O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, defendeu hoje que "a cultura não é um luxo" mas sim "um dos pilares fundamentais da cidade" que quarta-feira perdeu o "génio" do vereador Paulo Cunha e Silva.
"Aqui e hoje reafirmo o nosso compromisso para com esta cidade que tanto amámos e amamos: a cultura não é um luxo, não é um bem efémero e leviano. Não é. É, isso sim, um dos pilares fundamentais da Cidade", assinalou o autarca no seu elogio fúnebre no final da cerimónia que decorreu na Igreja da Lapa, Porto.
Perante as muitas centenas de pessoas que quiseram prestar homenagem a Cunha e Silva, Rui Moreira lembrou como "ao longo de um quarto de século de amizade, em longas, intermináveis conversas" imaginaram em conjunto "uma cidade do Porto coesa, viável, culta e solidária".
"Acreditámos que a cultura não é um luxo, não é um bem efémero e leviano que se propague naturalmente e que só é importante em tempos de abastança", reiterou.
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