Pedro Passos Coelho deixa alertas na saúde e defende que estabilidade política não depende apenas do parlamento
"Vamos ver quem tem força, autoridade e sabedoria para resolver" o problema na saúde, afirmou o ex-primeiro-ministro.
O ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho apontou esta quinta-feira "graves problema de gestão" e de descontrolo na despesa com saúde, e avisou que a estabilidade política não depende apenas do parlamento, mas da "vontade política" e "força moral" para fazer mudanças.
Na apresentação do livro "Parcerias Público-Sociais: o caso dos Hospitais (des)nacionalizados", da autoria do provedor da Santa Casa da Misericórdia de Barcelos, Nuno Reis, Passos Coelho realçou que a sua crítica sobre o "enorme descontrolo da despesa pública na área na saúde" não tinha como destinatário um responsável político ou um Governo em concreto, dizendo que se verifica há vários anos.
Mais à frente, quando se referiu também a "um grave problema de gestão na saúde", deixou um alerta: "Vamos ver quem tem força, autoridade e sabedoria para o resolver", disse, avisando que os problemas no setor não se resolvem com "revoluções" ou contra os profissionais.
"Isso não pode ser feito senão num horizonte, num contrato social e político mais alargado, com alguma estabilidade. E essa estabilidade depende da perceção que as pessoas possam ter da relevância dessas políticas", disse.
Para Passos Coelho, essa estabilidade não vem apenas "da força do parlamento".
"Um governo pode ser minoritário e não lhe faltar força nenhuma na sociedade para fazer uma reforma que as pessoas percebam que é necessária. Claro, se os governos têm medo de tirar isso a limpo, torna-se difícil obter o apoio das pessoas", admitiu.
O antigo primeiro-ministro defendeu que "é preciso mobilizar e convencer as pessoas que essas políticas são mesmo importantes", o que não depende "da força política momentânea".
"Depende de uma certa força moral, evidentemente, mas depende, sobretudo, de conseguirmos conquistar as pessoas para as mudanças que queremos fazer. Mas para isso temos de saber bem o que é que queremos e temos de testar", avisou.
Por outro lado, acrescentou, é preciso também "vontade política" para concretizar as mudanças, manifestando-se contra uma certa forma de governação, sem concretizar destinatários.
"'Chuta-se a bola para a frente e depois vamos ver. O que é importante é andar. A gente depois logo vê como é que faz'. É uma maneira de governar. Eu não a recomendaria, pelo menos como sistema. Não quer dizer que às vezes não seja preciso dar um piparote qualquer, andar para a frente e depois vamos ver. Mas como método, não me parece que seja recomendável", afirmou.
À saída, Passos Coelho não quis fazer declarações à comunicação social, numa sessão que contou com a presença do presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco.
Numa intervenção de cerca de 40 minutos, Passos Coelho lamentou a falta de dados para avaliar as decisões em políticas públicas como a saúde ou segurança social, já que tal enviesa toda a discussão para o campo da ideologia, saudando o livro do ex-deputado Nuno Reis hoje apresentado, que tem na base uma tese de doutoramento.
"Dentro dessa grande polarização, não há dúvida de que as políticas públicas estão sujeitas a um grande escrutínio, e que o sentimento geral que as pessoas vêm mostrando é um sentimento de desagrado, de insatisfação com os resultados que vão sendo obtidos. E, portanto, de preocupação", apontou.
O antigo primeiro-ministro alertou que se está "a caminhar num sentido de absoluta insustentabilidade da despesa pública", antevendo que no final deste ano se pode verificar um "desvio sigificativo" face ao que estava orçamentado para o setor da saúde.
"Acabaremos o ano com números que nunca foram atingidos (...) A minha perceção é de que há um enorme descontrolo de toda a despesa de saúde. Mas isto não é assim apenas este ano: esta minha declaração não visa nenhum responsável particular, nem este Governo, nem a senhora ministra", ressalvou, dizendo que o problema se agrava há muito tempo.
Passos Coelho considerou que tal não se explica sequer pelo aumento de pessoas a recorrer ao SNS, lembrando o crescimento dos seguros de saúde, nem pode ser apenas resolvido pelo setor privado, que já enfrenta problemas semelhantes na resposta.
"O Estado precisa de parcerias, precisa também de parcerias com o setor social", disse, considerando que este acrescenta outras dimensões que os privados não trazem e tem ainda capacidade de crescer.
Para o antigo primeiro-ministro, as três respostas -- pública, privada e social - são indispensáveis: "E só por cegueira ideológica é que alguém escolhe apenas alguma delas", defendeu.
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