Sócrates estranha 'email' visto só quatro dias depois

Ex-governante diz esperar que o diretor do DCIAP explique o que se passou.

03 de fevereiro de 2015 às 22:40
José Sócrates, ex-primeiro-ministro, PS Foto: Tiago Sousa Dias 
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José Sócrates revelou esta terça-feira não compreender porque razão o DCIAP (Departamento Central de Investigação e Ação Penal) apenas abriu quatro dias depois uma mensagem eletrónica enviada a manifestar disponibilidade para prestar depoimentos no processo judicial.

"O que é absolutamente extraodinário é que esse 'email', enviado às 15h54 de 21 de novembro, só tenha sido oficialmente recebido pelo DCIAP às 16h04 do dia 25, já depois de decretada a prisão preventiva, sustentada, entre outras, nessa alegação absurda do perigo de fuga".

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Na entrevista concedida à SIC, em resposta a perguntas formuladas pela estação, Sócrates afirmou que o "pequeno truque" de "ignorar o email para sustentar o perigo de fuga, é muito revelador". "Ainda estou à espera que o senhor diretor do DCIAP [Amadeu Guerra] se digne explicar o que se passou", afirmou.

Detenção foi "espetáculo"

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O ex-primeiro-ministro recordou que, à chegada a Lisboa, a 21 de novembro, proveniente de Paris, foi-lhe comunicada "imediatamente a detenção e nada poderia ter sido feito para a evitar". "A minha detenção nada teve a ver com justiça, mas com espetáculo. Não se tratou de cumprir um qualquer objetivo jurídico legítimo, mas teatralizar politicamente uma ação judicial", sustentou.

Sócrates justificou a mudança de voo de quinta-feira para sexta-feira, ao final da tarde, com a participação num semanário académico e com "a deslocação do advogado a Paris para uma reunião que não estava inicialmente prevista". "Francamente, não percebo que suspeitas essas alterações (de voo) possam justificar", acentuou, acrescentando: "Alguém estava a esforçar-se muito para evitar o óbvio: eu ia a entrar (no País) e não a sair".

"MP violou segredo de justiça" 

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O ex-primeiro-ministro acusou ainda o Ministério Público (MP) de ter violado "propositadamente o segredo de justiça" e questionou os indícios que lhe são imputados, tais como "o milhão [de euros] descoberto num cofre" que disse nunca lhe ter pertencido, as "malas de dinheiro que iam para Paris" e o "fundo para esconder imóveis" que, assegurou, nunca lhe pertenceram.

Disse ainda que nunca tomou "iniciativa para favorecer o grupo Lena", cujos administradores conheceu "em ações de diplomacia económica", e que "o Governo português empenhou-se" no projeto daquela empresa na Venezuela "como noutros locais".

Sócrates também recusou ter favorecido o amigo de infância Carlos Santos Silva e admitiu que realizou um telefonema para o vice-presidente da Angola "por mera simpatia, para ajudar uma empresa portuguesa", gravação que é um dos fundamentos da acusação para o indício de corrupção.

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José Sócrates está preso preventivamente desde 25 de novembro do ano passado, indiciado de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada.

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