Ventura acusa Governo de "incompetência" na gestão da saúde, Montenegro admite "constrangimentos"
No debate quinzenal com o primeiro-ministro, Ventura confrontou Luís Montenegro com a situação vivida na quinta-feira na urgência do Hospital Amadora-Sintra.
O líder do Chega acusou esta sexta-feira o Governo de incompetência na gestão da saúde e considerou que os utentes não podem ser sujeitos a esperar 18 horas numa urgência, e o primeiro-ministro reconheceu constrangimentos e antecipou que poderão repetir-se.
No debate quinzenal com o primeiro-ministro, na Assembleia da República, André Ventura confrontou Luís Montenegro com a situação vivida na quinta-feira na urgência do Hospital Amadora-Sintra, em que o tempo de espera para doentes urgentes chegou a ser de mais de 18 horas.
O deputado considerou que se vive uma situação de "brutal guerra civil" na saúde e, em especial, nas urgências.
"As pessoas estão sem acesso à saúde", alegou, referindo que os "doentes a aguardar cirurgia, fora dos tempos máximos, aumentam 20%" e que há "mais de 20 mil utentes" à espera de cirurgias oncológicas.
"Neste Orçamento de Estado, que acabaram de aprovar com o PS, o Governo reduz em 10%, 10% num serviço já caótico, o apoio a exames, a medicamentos e a transporte de doentes. Senhor primeiro-ministro, isto não é humano. Não é humano de um Governo que diz ser humanista, não é humano de um Governo que diz que quer resolver problemas", criticou.
Ventura considerou que "talvez o número mais vexatório" para o Governo é existir "um milhão e meio de utentes sem médico de família" e questionou o "que é que interessa" o crescimento económico "a quem não tem" acesso à saúde.
Na resposta, o primeiro-ministro considerou que a situação nas urgências do Amadora-Sintra se tratou de "um pico de aumento de um tempo de espera específico", que poderá repetir-se.
"Foi ontem e vai acontecer hoje e vai acontecer na próxima semana. Se o senhor deputado quiser aproveitar esse caso concreto vai sempre ter um exemplo para apresentar", afirmou Luís Montenegro.
Na réplica, o presidente do Chega defendeu que "isto não é brincadeira nenhuma" e considerou que o primeiro-ministro "não pode vir aqui e dizer vai acontecer amanhã e depois, depois".
"Então, se acontece, é por incompetência vossa", acusou, salientando que estas situações não se podem repetir e que são sinal "do fracasso do Governo na saúde".
De seguida, o primeiro-ministro salientou que "de janeiro a outubro de 2025 o SNS registou uma redução global de 37% no número de dias de encerramento das urgências hospitalares" e entre "janeiro a agosto" houve uma diminuição "de 16% do tempo de espera".
"Quer isto dizer que não houve picos? Que não houve dias que tiveram problemas? Houve! Houve constrangimentos. Há constrangimentos", admitiu, sustentando que "não é possível" solucionar esta questão de "um dia para o outro ou mesmo de um ano para o outro".
"É evidente que nós temos muitos problemas para resolver no nosso Serviço Nacional de Saúde e do nosso sistema de saúde como um todo. E é evidente que temos de resolver problemas de acesso ao Serviço Nacional de Saúde. Como também é evidente que há muita coisa, mas mesmo muita, que corre bem no Serviço Nacional de Saúde. Eu até devo dizer que a grande maioria dos tratamentos, dos cuidados de saúde, correm bem. Correm bem no acesso e correm bem na substância, não há dúvida nenhuma", salientou.
Montenegro justificou com "o investimento" que o Governo tem feito nesta área, bem como "todo o esforço e dedicação dos profissionais de saúde".
"Há um grande esforço que tem vindo a ser feito neste ano e oito meses em que exercemos funções com vista precisamente a inverter as tendências que aqui o senhor deputado quis anunciar", sustentou.
Relativamente aos médicos de família, o primeiro-ministro referiu que foi atribuído médico de família "a mais 305.883 utentes", mas "ingressaram no SNS mais 258.762 novos utentes", por isso é que "o número se mantém tão elevado".
Sobre as cirurgias, assinalou que "entre janeiro e outubro de 2025", foram feitas "mais 5,9%", e no que toca às oncológicas, há "391 casos que ainda estão a aguardar agendamento por razões clínicas, que não estão em condições de poderem ser agendadas as respetivas cirurgias".
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