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Correio da Manhã

Política
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CDS envia retrato de Freitas ao PS

O CDS “não quer reescrever a história”, mas Freitas do Amaral, fundador do partido, perdeu o direito a ter a sua fotografia , à entrada da sede nacional, no Largo do Caldas, em Lisboa, ao lado do busto de Adelino Amaro da Costa, e dos retratos de Lucas Pires, Adriano Moreira e Manuel Monteiro.
7 de Março de 2005 às 00:00
A decisão de retirar o retrato de Freitas do Amaral da entrada da sede do partido e enviá-la, por correio, à sede do PS, no Largo do Rato, em Lisboa, foi tomada, anteontem, pelo secretário-geral do CDS, Luís Pedro Mota Soares, depois de ouvido o líder do partido demissionário, Paulo Portas.
Mota Soares explicou ao CM que foram três os motivos que concorrerem para esta decisão: “Primeiro, porque nós [CDS] temos muitos jovens que aderiram ao CDS e que não compreendem que tenhamos à porta o retrato de uma pessoa que já apoiou o PSD, o BE, o PS e agora é membro de um governo socialista.” Segunda razão: “Há milhões de portugueses, fora e dentro do CDS, que não entendem aquela lógica ‘dá-me o teu apoio que eu dou-te um Ministério”. Terceiro e último motivo: “Combater a hipocrisia política.”
O secretário-geral do partido prevê que o CDS vai ser criticado pelos “comentadores de serviço” por tomar esta decisão, mas “tem de fazer uma política genuina”. A verdade – acrescenta – é que “Freitas do Amaral tem prejudicado o CDS e não faz sentido que tenha a sua foto na sede do partido”. “Não queremos reescrever a História – não esquecemos o papel histórico de Freitas do Amaral – mas, depois de em três anos apoiado três partidos diferentes perdeu o direito de ter um lugar de destaque à porta do CDS”, explica Mota Soares, acrescentando: “ Integrar o governo do PS foi a última desilusão”. De resto, para o secretário-geral do CDS, Freitas do Amaral “também já não se devia sentir bem em ter o seu retrato à porta do CDS”.
Nesse sentido, o CDS decidiu enviar o quadro pelo correio à sede do PS onde ele “se sente bem”, no Largo do Rato, em Lisboa. E já está embrulhado à espera que os CTT abram hoje de manhã para ser enviado.
E se o PS recusar o quadro? Afinal, Freitas do Amaral não é filiado no partido. O dirigente do CDS responde ao cenário de recusa por parte dos socialistas: “Logo se vê.”
Mota Soares garantiu ainda que a fotografia de Manuel Monteiro continuará pendurada na sede do partido e que não vai mexer no ‘site’ da internet, onde Freitas do Amaral continuará a constar como fundador do partido, com direito a foto e tudo.
FREITAS CALA-SE MAS PS FALA EM "GAROTICE"
Diogo Freitas do Amaral recusou-se ontem aprestar declarações sobre caso da retirado da sua fotografia da sede do CDS. Mas porta-voz do PS, Pedro Silva Pereira, acusou o CDS de ter feito uma “garotice mal--educada” ao decidir retirar o retrato oficial de Freitas do Amaral da sede do partido e enviá-lo para o Largo do Rato. O visado na polémica, Diogo Freitas do Amaral remete-se ao silêncio, mantendo distanciamento face à polémica.
Do lado dos socialistas, a primeira reacção foi de incredulidade e o silêncio foi a primeira resposta. Mais tarde, o porta-voz do partido afirmou à Lusa que “é apenas uma garotice mal-educada de quem manda no CDS, se é que alguém manda no CDS”, numa alusão directa ao presidente democrata-cristão demissionário, Paulo Portas com quem Mota Soares combinou e alinhou esta decisão.
O novo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros e fundador do CDS protagonizou recentemente uma querela com o ainda ministro das Finanças Bagão Félix, por causa da Caixa Geral de Depósitos. Na altura, acusou o responsável pela pasta das contas públicas de perseguição política. Isto depois de ter assumido que votaria no PS. Mas, o primeiro sinal de mal-estar com o CDS surgiu com o apoio a Durão Barroso em 2002 e na questão do Iraque quando Freitas do Amaral discursou ao lado de figuras como Mário Soares e dirigentes do Bloco de Esquerda.
PSD NÃO RETIROU QUADRO
A escadaria que dá acesso ao piso superior da sede do PSD, na Rua de São Caetano à Lapa, em Lisboa, tem os retratos de todos os líderes, mesmo os dos dissidentes como o de Sousa Franco, já falecido.
Nem o facto de ter sido ministro das Finanças – independente – do governo de António Guterres ou cabeça de lista nas últimas eleições Europeias pelos socialistas levou os sociais--democratas a retirarem a sua imagem da parede.
Quando o PPD/PSD celebrou a 6 de Maio de 2004 os seus 30º aniversário, Durão Barroso, na altura líder do partido e primeiro-ministro de Portugal, convidou todos os ex-presidentes. Sousa Franco ficou sem convite porque já não era militante social-democrata, mas o seu quadro não foi removido da ‘história’ do PSD. Permanece intacto.
No CDS-PP, o último congresso ficou marcado pelo visionamento de um filme sobre a história do cerco ao Palácio de Cristal, no Porto, em 1975. Freitas do Amaral, um dos presentes foi esquecido. Nesse conclave, que se realizou em Matosinhos, Paulo Portas foi acusado de pretender reescrever a história do seu próprio partido. Ignorou as críticas.
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