Aos 42 anos, João Ferreira quer centrar as atenções na candidatura à presidência da República e evita falar do futuro do PCP. Sobre o confinamento, admite que não há outra opção no atual contexto.
CM – O que acha do confinamento?João Ferreira - O curso da pandemia foi de tal ordem que chegámos a uma situação em que temos de perceber esta decisão. Houve uma evolução preocupante, com um crescimento muito rápido nos contágios, o que teve uma tradução na ocupação das unidades hospitalares, dos Cuidados Intensivos e nos óbitos. O OE prevê um reforço de 400 camas nos Cuidados Intensivos e é importante que isso se concretize.
–Acha perigoso que as escolas se mantenham abertas?- É positivo que se garanta a continuidade das escolas. Assisti à reunião do Infarmed e não houve nenhum especialista que defendesse abertamente o fecho de escolas. O prejuízo seria muito grande.
–Que adaptações vai fazer na sua campanha?- Já houve uma alteração de alto a baixo. Cancelámos iniciativas e alterámos a natureza de outras. Não vamos ter contacto de rua de massas. Mas é importante não abandonar um trabalho de esclarecimento e mobilização. As eleições não podem passar ao lado das pessoas. Vamos ter sessões online, contacto presencial em condições em que a saúde é protegida. Milhares de trabalhadores não vão parar e vou procurar estar próximo deles.
–Está previsto também que a sua campanha seja a mais gastadora [450 mil euros]...- Foi feita uma estimativa de custos máximo e as contas finais ficarão muito abaixo .
–Sucede a Edgar Silva que, em 2016, teve 3,95% dos votos. Qual é a sua fasquia?- Esta candidatura é apoiada por PCP e PEV. E tem havido uma tentação dos comentadores em a confinar a determinada fronteira partidária. Já demonstrámos nos apoios - e nos próximos dias acontecerá novamente - que incluímos outros partidos. Não ando aqui a concorrer para percentagens.
–Em 2016 foi a primeira vez que o candidato do PCP ficou atrás do BE. Isso preocupa-o?- Isto não é uma prova de atletismo, não é um teste de popularidade. É uma questão a que não atribuo importância.
–Não atribuiu importância ao voto dos eleitores?- O voto dos cidadãos é importante, mas quero que seja em função do que cada candidato defende. Quero que as minhas ideias vão o mais longe possível, mas não fixo fasquias.
–Falo com autarcas da CDU e muitos o apontam como a pessoa certa para suceder a Jerónimo de Sousa...- Muitos deles também dirão que sou a pessoa indicada para exercer as funções de PR, é nisso que estou concentrado.
–Carlos Carvalhas foi candidato presidencial e secretário-geral. Jerónimo também...- E houve candidatos que não foram secretários-gerais. Não posso, nem devo, desvalorizar a minha candidatura. E era isso que faria se lhe respondesse.
–Porque acha que está a ser tão difícil ao PCP renovar-se?- Há desafios que o PCP enfrenta, mas tem sabido enfrentá-los. Se olhar para a AR não vê uma bancada envelhecida.
–André Ventura conseguiu irritá-lo no debate? Porquê?- Mesmo quando se confrontam visões diferentes é conveniente que isso seja feito de forma ordeira. Quando as regras não são respeitadas há uma desordem lamentável... Fiz o que tinha de fazer para respeitar a urbanidade, mas entendi que não me devia calar.
–Enunciou que "os povos têm o direito a escolher o seu destino" quando foi confrontado com ditaduras de esquerda. Os povos escolhem em países como a Coreia do Norte?- Disse duas coisas que são fundamentais: que pautaria o meu relacionamento com outros países pelo princípio do relacionamento respeitando a independência e soberania de cada um; e que o meu projeto de democracia me afasta de numerosas experiências, designadamente a que referiu.
–O que fez Marcelo Rebelo de Sousa que nunca faria?- Não sujeitaria jovens à procura do primeiro emprego a uma vulnerabilidade acrescida com a promulgação das alterações à lei laboral, não teria colocado o peso das minhas intervenções do lado da contenção da evolução salarial. Não me ouviria a dizer que 635 euros é um valor razoável para o salário mínimo nacional. Não dificultaria uma Lei de Bases da Saúde e não criaria dificuldades à recuperação para o poder público de empresas estratégicas para o País.