O coração traiu Maria de Lourdes Pintasilgo. A antiga primeira-ministra, a única mulher até hoje a chefiar o Governo português, faleceu ontem em casa, cerca das 2h30, vítima de paragem cardíaca. Tinha 74 anos.
A morte de um dos símbolos da democracia teve o condão de unir partidos e dirigentes políticos numa manifestação unânime de pesar, num momento particularmente delicado da vida política.
A última aparição pública da antiga governante ocorreu precisamente na semana passada. Pintasilgo integrou o rol de personalidades que o Presidente da República chamou a Belém para se aconselhar na sequência da demissão do primeiro-ministro.
Na altura, fez uma das declarações mais polémicas ao classificar o actual momento como a “maior crise desde o 25 de Abril”.
Ela que foi precisamente a única chefe de Executivo de iniciativa presidencial no pós-25 de Abril (em 1979) viria a manifestar-se contra a indigitação de um Governo com as mesmas características. “Não é viável”, referiu a antiga governante, que chegou ao poder por via da dissolução da Assembleia da República. O presidente da República era então o general Ramalho Eanes, que nomeou um Governo de gestão de cem dias até à realização de eleições intercalares (o V Governo Constitucional).
A morte de Pintasilgo vem chocar o País que ainda sente e chora os desparecimentos súbitos de Sousa Franco e de Lino de Carvalho.
Maria de Lourdes Pintasilgo iniciou a carreira pública como procuradora na Câmara Cooperativa em 1965. Após o 25 de Abril, ocupou vários cargos governamentais, tendo sido ministra dos Assuntos Sociais nos II e III Governos Provisórios, antes de chefiar o V Governo Constitucional.
Em Julho de 1975, foi nomeada embaixadora de Portugal na UNESCO. Foi consultora do ex-presidente da República Ramalho Eanes e fundou o Movimento para o Aprofundamento da Democracia em 1986. No mesmo ano, candidatou-se à Presidência da República, tornando-se na primeira mulher em Portugal a protagonizar uma candidatura a Belém. No ano seguinte, em 1987, foi eleita deputada pelo PS ao Parlamento Europeu.
Foi também através da sua acção que foi criado em Portugal o movimento critão Graal.
O funeral realiza-se hoje, às 14h30, no Cemitério dos Prazeres. Antes do cortejo fúnebre, realiza-se uma missa de corpo presente na Basílica da Estrela.
"Recebi com muito pesar e tristeza a notícia do falecimento da engenheira Maria de Lurdes Pintasilgo, de quem era velho amigo e admirador. Perdemos assim uma cidadã notável, que serviu Portugal nos mais altos cargos e funções, sempre com grande talento, dedicação inexcedível e numa atitude permanentemente inovadora". Jorge Sampaio, Presidente da República
"É-lhe devido o maior tributo por ter dado o seu melhor ao serviço do nosso país, com a sua sensibilidade e com as suas convicções". Durão Barroso, ex-primeiro-ministro
"Em nome do meu partido e como presidente da câmara de Lisboa quero expressar o meu pesar pelo desaparecimento de uma grande senhora, uma senhora com causas, convicções, sempre preocupada com os mais desfavorecidos". Pedro Santana Lopes, líder do PSD
"Independentemente das diferenças ideológicas, o CDS/PP mostra o seu respeito pela convicção com que Maria de Lurdes Pintasilgo dirigiu toda a sua vida, dedicada às causas em que acreditava, e no serviço que colocou à causa pública". Pedro Mota Soares, secretário-geral do CDS/PP
"Maria de Lurdes Pintasilgo manteve, até ao fim da sua vida, uma intervenção cívica sempre guiada por um princípio básico: uma luta intransigente e incessante pelos desfavorecidos". Ferro Rodrigues, líder demissionário do PS
"Foi uma mulher que marcou a nossa terra, até por ter sido a única que ocupou o cargo de primeiro-ministro". "Bateu-se sempre com grande coerência pelos seus princípios, muitos dos quais com que eu me identifico muito". João Soares, deputado do PS
"Foi a primeira mulher com grande destaque na democracia, e com grande mérito". "Foi uma amiga muito próxima". Francisco Louçã, líder do BE
"Foi com grande tristeza que soube da morte de Maria de Lurdes Pintasilgo, uma amiga com quem estive nos governos provisórios e lado a lado em muitos acontecimentos da nossa vida política e colectiva". Carlos Carvalhas, director-geral do PCP
"Foi uma personalidade ímpar da política e da cultura em Portugal". Alberto Martins, dirigente socialista
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