"Para já, estou a pensar seriamente em recusar esta promoção e os 48 mil euros [de indemnização, referentes à diferença entre os salários de tenente-coronel, seu posto actual, e o de coronel, desde 1 de Setembro de 2000]. Recuso, assim não, não quero", afirmou ontem Otelo em Almalaguês, Coimbra, onde participou num debate com alunos do Ensino Secundário sobre os 35 anos do 25 de Abril.
Para não restarem dúvidas sobre a sua posição, Otelo é categórico: "O que quero é que a minha instituição, com uma portaria assinada pelos ministros da Defesa e das Finanças, reponha a verdade perante os factos." Porque, frisa, "não há aqui benesse alguma por parte do Estado, é um direito que me assiste e reclamo".
O líder operacional do 25 de Abril reforça ainda mais esta posição: "No final de Setembro de 2003 fiquei completamente ilibado de quaisquer acusações referentes ao processo das FP25. A partir daí, legalmente, pelo Estatuto das Forças Armadas, devia ter sido promovido a coronel no dia seguinte, reportando a minha antiguidade e com efeitos retroactivos, em termos de vencimentos, a 1985."
Por isso, face à sua promoção através da Lei 43/99, admite o recurso aos tribunais para ser promovido a coronel por antiguidade: "Vou ver se ponho, com um advogado, uma acção contra o Estado, o que não queria, nunca mexi em nada que pudesse prejudicar o prestígio da minha instituição, do Exército, mas tenho de reagir de alguma forma."
PAULO PORTAS RECORDA LIGAÇÃO ÀS FP25
O líder do CDS-PP, Paulo Portas, condenou ontem a promoção do tenente-coronel Otelo Saraiva de Carvalho a coronel, considerando que a sua ligação ao 25 de Abril não apaga a ligação à "organização terrorista [FP25.]"
"Quero, em nome do CDS, lamentar e expressar a minha condenação pelo facto de Otelo Saraiva de Carvalho ter sido promovido", afirmou Paulo Portas no Parlamento. Considerando que "um Estado de direito não desculpabiliza a utilização do terrorismo", o líder do CDS-PP recordou assim a ligação de Otelo Saraiva de Carvalho às FP25, organização "responsável pela morte de 17 inocentes" na década de oitenta.
SAIBA MAIS
MAIS SETE PROMOÇÕES
Vítor Afonso, César Neto Portugal, José Borges da Costa, Antero Ribeiro da Silva, Ângelo Sousa e Aniceto Afonso foram promovidos a coronel. António Vicente foi promovido a sargento-mor.
500
euros é a diferença salarial de coronel para tenente-coronel.
368
é o número de militares com carreiras reconstituídas pela Lei 43/99.