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Correio da Manhã

Política
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Parlamento chumba iniciativa para recuar na municipalização da educação

Projeto de resolução surgiu ao lado de uma petição de associações representativas de professores.
Lusa 13 de Janeiro de 2023 às 14:25
Parlamento
Parlamento FOTO: João Cortesão
O parlamento chumbou esta sexta-feira um projeto de resolução para reverter o processo de transferência de competências para as autarquias na área da educação, que os comunistas consideram pôr em causa o direito à educação.

Os deputados do PCP apresentaram hoje uma iniciativa no sentido de reverter o processo de municipalização da educação, defendendo que não existem meios financeiros nem humanos suficientes para o fazer e que a atual situação irá agravar as desigualdades entre alunos de diferentes regiões.

A iniciativa contou com os votos favoráveis da bancada do PCP, Bloco de Esquerda e Livre, mas foi chumbado com os votos contra do PS, PSD e Iniciativa Liberal e a abstenção do Chega.

O projeto de resolução surgiu ao lado de uma petição de associações representativas de professores, trabalhadores não docentes, diretores e encarregados de educação.

O abaixo-assinado "Não à transferência de competências para os municípios em Educação" reuniu mais de oito mil assinaturas e foi também apresentado no plenário da Assembleia da República.

"Aquilo que o PCP aqui traz é o sentimento da comunidade educativa", disse a deputada comunista Paula Santos.

Tanto a petição como projeto de resolução do PCP consideram que a transferência de competências "põe em causa a universalidade do direito constitucional à educação".

Paula Santos explicou que "não foram acauteladas condições" para a transferência de competências, "em primeiro lugar porque não foi feito um levantamento rigoroso das necessidades".

A deputada falou na falta de meios financeiros, técnicos e humanos suficientes para pôr em marcha um plano que prevê, entre outras coisas, que as obras nas escolas ficarão a cargo das autarquias.

O PCP deu como exemplo o valor a transferir para as autarquias - que subiu de cerca de 20 mil para mais de 30 mil euros por ano -- mas que os comunistas consideram ser "manifestamente insuficiente" tendo em conta "o mau estado das escolas".

No entanto, o Governo garantiu que irá assumir o financiamento da requalificação e construção de escolas e garantiu que haverá verbas para o fazer.

Durante o debate, a deputada do PS Lúcia Araújo corroborou que "os valores definidos garantem a continuidade dos serviços", voltando a reforçar o facto de ter havido um aumento do valor a transferir e de existir "um mecanismo para garantir quer os valores terão em conta a inflação".

A municipalização prevê ainda que sejam as autarquias a gerir os refeitórios escolares, a ação social escolar, o pessoal não docente (assistentes operacionais e assistentes técnicos), o alojamento, o transporte escolar e as atividades de enriquecimentos curricular.

O diploma não prevê a possibilidade de as autarquias poderem contratar professores, mas este voltou a ser um dos assuntos em discussão.

O "perigo" de os docentes poderem vir a ser contratados pelas autarquias foi referido pela deputada do Bloco de Esquerda Joana Mortágua, que recordou as declarações de "Rui Moreira e Carlos Moedas, que deixaram muito claro que queriam avançar com a municipalização dos professores. "O perigo anda ai", disse.

Bruno Nunes, do Chega, acusou o PCP de "falar do que não sabe", considerando que "a esquerda e a extrema externa tentaram instrumentalizar os professores".

"Isto é tudo mentira", acusou Bruno Nunes, afirmando que o diploma de descentralização de competências "não tem, em momento algum, nada a ver com a contração de professores".

Também a deputada socialista Lúcia Araújo criticou a "falsa narrativa" que circula sobre a possibilidade de os professores poderem ser contratados pelas autarquias, medida negada várias vezes pelo Ministério da Educação.

Focando-se novamente no diploma, Joana Mortágua lembrou que muitos países experimentaram a municipalização "com resultados desastrosos", apontando como exemplos os casos em que aumentaram os riscos de desigualdade entre municípios e a degradação dos direitos laborais dos trabalhadores transferidos para os municípios.

Gabriela Fonseca, do PSD, disse que a transferência de competências é há muito reclamada pelos municípios e lembrou o papel fundamental desempenhado pelos autarcas junto dos alunos durante a pandemia de covid-19.

Para a deputada do PSD, "a descentralização agora levada a cabo corresponde a um retrocesso" em comparação com o trabalho iniciado pelo seu partido.

Também a socialista Lúcia Araújo defendeu que "o poder local democrático tem mostrado que resolve de uma forma mais eficaz os problemas das populações".

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