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Partidos rejeitam necessidade de rever Constituição para casos de emergência sanitária

Tema foi discutido no último debate entre partidos no âmbito das eleições legislativas.

20 de janeiro de 2022 às 13:49

Os partidos recusaram esta quinta-feira a necessidade de rever a Constituição para a adaptar a um cenário de emergência sanitária, opondo-se a nova legislação que restrinja liberdades e diminua o papel do parlamento.

O tema foi discutido no último debate entre partidos no âmbito das eleições legislativas, transmitido por Antena 1, TSF e Renascença, a partir das instalações da RTP, em Lisboa, no qual estiveram ausentes o presidente do PSD, Rui Rio, e do Chega, André Ventura, alegando motivos de agenda.

Questionado sobre o tema, o secretário-geral do PS, António Costa, começou por dizer que o país "não tinha estrutura jurídica pensada" para situações como a da pandemia da covid-19 e que "houve um esforço coletivo de todos de ir encontrando soluções que coubessem na Constituição e nas leis para gerir esta pandemia", tendo existido igualmente "um consenso" de que não era altura para alterações à legislação.

"E portanto, o que na altura fizemos foi constituir uma comissão presidida pelo conselheiro Henriques Gaspar, ex-presidente do Supremo Tribunal de Justiça, com representante da Procuradoria-Geral da República, e de outras instituições, que fez um estudo aprofundado do direito comparado e apresentou um anteprojeto de lei de emergência em saúde pública", apontou.

Esse anteprojeto, de acordo com Costa, foi entregue pouco tempo antes do início da crise política que levou à dissolução do parlamento mas "está pronto" e será enviado para a Assembleia da República "para ser devidamente considerado", sendo que "até lá" o país tem que viver com o quadro legal existente, apontou.

Questionado sobre se será necessária uma revisão constitucional sobre a matéria, Costa recusou: "A comissão conteve-se nos limites da Constituição e o entendimento que tem é que é possível aperfeiçoar a legislação entre a Lei de Emergência em Saúde Pública e as medidas da Lei de Bases da Proteção Civil para não ser necessário uma revisão constitucional", respondeu.

"Tal como o exemplo que os portugueses deram aderindo à vacinação torna inútil a discussão sobre a vacinação obrigatória, também a forma massiva como cumpriram e respeitaram as regras de proteção sanitária tornam irrelevante a discussão sobre a necessidade de uma nova lei de emergência sanitária ou muito menos de uma revisão da Constituição", considerou o líder parlamentar do PCP, em representação da CDU, João Oliveira, defendendo capacidade de resposta a necessidades sociais e económicas numa situação pandémica.

Ressalvando que o projeto em causa ainda não é conhecido, a coordenadora do BE, Catarina Martins, também rejeitou revisões constitucionais nesta matéria e admitiu que possam ser discutidos "alguns pormenores de coisas que criaram mais dificuldades, sem nunca deixar de garantir tanto o equilíbrio de poderes, como as liberdades fundamentais".

"Portugal e a população portuguesa foram exemplares do ponto de vista da Europa e isso deve-nos fazer pensar também que se calhar este contrato democrático é importante e portanto mais limitações não são a resposta", apontou.

Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS-PP, disse ser por princípio "frontalmente contra a ideia de limitação de liberdades direitos e garantias dos cidadãos", apontando que "os instrumentos que foram utilizados durante a pandemia mostraram-se eficazes para se adotarem as medidas" adequadas, rejeitando também uma revisão constitucional.

Para o centrista "há instrumentos parlamentares que podem acautelar e dotar o Governo de instrumentos necessários e eficazes para combater a pandemia".

O presidente da Iniciativa Liberal também se opôs a uma revisão constitucional, rejeitando igualmente uma lei de emergência sanitária, alegando que "não houve uma medida eficaz que tenha ficado por tomar" existindo até "várias ineficazes que também foram tomadas" e "não foi a lei que esteve no caminho disso".

"O que se está a pretender é agilizar a tomar decisões por parte do Estado relativamente a matérias que são fundamentais nos direitos e liberdades, nomeadamente tirar a Assembleia da República do processo de decisão", criticou.

Por seu turno, Inês Sousa Real, do PAN, mostrou-se favorável a uma lei de emergência sanitária, argumentando que o país andou "a correr atrás do prejuízo".

"Aquilo que o PAN não aceita é que possa existir retrocesso em matéria da proteção dos direitos, liberdades e garantias. Ou seja estar a fazer uma lei sanitária que possa de alguma forma arredar a Assembleia da República daquilo que é a declaração do estado de emergência num contexto de limitação de direitos, liberdades e garantias, isso não aceitaremos", alertou.

Para o partido deve existir uma revisão constitucional "não apenas pelas questões sanitárias mas sobretudo pela questão do clima e também pela questão da proteção animal, que deve ter dignidade constitucional", bem como para o combate à corrupção, acrescentou.

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