Vasco Brazão: “O Hugo Abreu tinha feridas em carne viva”
Major investigou mortes nos Comandos. Relatou aos juízes como encontrou o corpo de uma das vítimas.
Na noite de 4 de setembro de 2016, o major Vasco Brazão foi chamado ao Campo de Tiro de Alcochete. Tinha-lhe sido atribuída a investigação à morte de Hugo Abreu durante o curso de Comandos. E quando chegou àquele que apelida de "local do crime" apercebeu-se logo de duas coisas: o corpo tinha sido mudado de tenda e, - pior - o cadáver apresentava feridas. "Tinha arranhões e partes do corpo em carne viva".
As palavras são do major Vasco Brazão, na altura investigador principal da Polícia Judiciária Militar. Ontem esteve no Campus de Justiça a testemunhar no processo que senta no banco dos réus 19 militares, acusados de vários crimes que levaram à morte de Hugo Abreu e Dylan da Silva.
Ambos tinham 20 anos e o sonho de pertencer aos Comandos. Hugo morreu logo no primeiro dia da Prova Zero. Dylan lutou pela vida durante cinco dias, mas acabou por não resistir aos ferimentos.
O major revelou ainda que o corpo de Hugo Abreu foi retirado da tenda da enfermaria logo após ter recebido as manobras de reanimação por parte dos médicos do INEM. "Ele estava na tenda dos superiores. A outra foi limpa por causa do sangue", disse. Questionado por um advogado se aquela limpeza foi feita para encobrir algo, o major respondeu que não.
Relativamente aos ferimentos graves que as duas vítimas apresentavam, o major referiu que os "castigos apesar de serem uma prática menos boa, em termos militares são aceites". Ainda assim ressalvou que atirar instruendos para as silvas "não é normal". O major deu a entender que a água dada aos instruendos não foi suficiente num dia em que os termómetros ultrapassavam os 40 graus.
Hugo Abreu e Dylan da Silva morreram após falência dos órgãos vitais. O major Vasco Brazão continua a prestar depoimento na próxima quarta-feira no Campus de Justiça.
PORMENORES
Acusados de 539 crimes
Oito oficiais, oito sargentos e três praças, todos militares do Regimento de Comandos, a maioria instrutores, estão acusados pelo Ministério Público de 539 crimes de abuso de autoridade por ofensa à integridade física.
Arguido no caso de Tancos
O major Vasco Brazão é também um dos nove arguidos da operação Húbris, da Polícia Judiciária, que investiga a recuperação encenada do armamento militar furtado dos paióis de Tancos. O oficial tem como medida de coação a prisão domiciliária sem vigilância eletrónica.
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