Acusado de passar com o carro 7 vezes por cima da ‘ex’ exalta-se com juíza: “Quer que lhe faça um desenho?”

Procurador pede pena máxima para homicida de Daniela Padrino. Antes do crime pesquisou sobre pistolas, facas e as melhores lâminas para perfurar.

27 de maio de 2025 às 12:40
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João Pedro Oliveira quis dar mais explicações ao coletivo de juízas do tribunal de Matosinhos esta terça-feira, depois de ter chegado o relatório da pesquisa informática ao telemóvel que usava. Os dados do Google maps indicam que estaria na Rua Padre Costa, em São Mamede de Infesta, na zona da residência da vítima, Daniela Padrino, a 4 de junho. “Eu fiz essa pesquisa. Eu andava a enviar emails à Daniela. Estava com alguma esperança de reatar o relacionamento. Descobri que o namorado não podia ter filhos e achei que ela podia não querer continuar o relacionamento”, referiu o arguido, que está em preventiva.

Às juízas explicou como teve conhecimento da morada. “Foi através da ex-namorada dele que soube da morada da Daniela e que ele não podia ter filhos. Eu imaginei que eles estivessem a viver juntos. Como eles já estavam noivos. Parti do princípio que ela já não estava na casa dele”, contou.

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Já a 6 junho, dia do crime, o relatório indica que João Pedro estava na EN14. “Decidi vir ao Porto nesse dia. Essa era a minha localização exata”, referiu dando mais pormenores, sempre de forma extremamente fria. “Estacionei o carro numa ruela e saí de lá quando a vi. Eu chamei-a e ela ignorou-me. Continuou a andar para a frente mais acelerada. Senti-me ignorado por ela e fiquei a pensar no que ia fazer. Depois fiquei ali uns 3/4 minutos. E fui à procura dela outra vez e fui de carro na direção em que ela estava a caminhar”, indicou.

O arguido chegou a exaltar-se nas explicações, após a juíza presidente do coletivo ter ficado com dúvidas. “Mas como quer que eu lhe explique? Eu posso-lhe fazer um desenho se quiser”, disse enervado.

“Não sou tão totó quanto isso e não vai falar para mim nesse tom”, referiu a juíza Ana Paula Oliveira.

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João Pedro chegou a pesquisar na internet sobre pistolas “ilegais a 100 euros”, lâminas “melhores para perfurar”e facas militares, revela ainda o relatório. “Comecei a ficar mais transtornado a saber que iam casar e comecei a ter ideia de fazer mal ao noivo”, revelou. Pesquisou ainda sobre detetives privados. “Era para saber onde ele morava. É que eu queria-a confrontar. Na altura andava de cabeça perdida. Queria falar com ela e resgatar o relacionamento. Tive pensamentos negativos direcionados ao namorado dela. Não andava a dormir praticamente nada e há coisas que não me lembro”, explicou.

“Não se lembra das coisas convenientemente”, disse-lhe a juíza. “Porque pesquisou sobre a faca que mais danos causasse?”, questionou-o ainda a magistrada. “Queria fazer-lhe mesmo muito mal ao namorado dela”, respondeu João Pedro.

“Tentou mostrar ser alguém incapaz de tanta barbaridade. Diz que o seu objetivo era fazer mal ao noivo da Daniela. Mas o que quis sempre foi a Daniela, tal como 15 anos antes foi a Carla [ex-namorada que assassinou em Castelo Branco em 2009 com 16 facadas]. Atropela a Daniela pelas costas e, para não ter dúvidas que estava morta, insiste.

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Procuradora pede 25 anos de cadeia

"Motivo torpe, prazer de matar. Já matou uma vez. Agiu pela satisfação de “não é minha não é de mais ninguém”. Utilizou o carro como arma. Não conseguiu a faca, utiliza o carro. A vítima nem gritou. Ficou logo sem vida. E depois recuou e voltou a avançar… e repetiu tudo. Até esmagou a cabeça da Daniela para que não houvesse vida. Não queria que ela sobrevivesse. Em 20 anos de magistratura estes são os factos mais chocantes com os quais trabalhei. Atenta a factualidade, este arguido tem de ser condenado a 25 anos de cadeia e, se algum dia sair em liberdade, após cumprir a pena total, há um risco de voltar a cometer um ato bárbaro. E o povo diz que não há duas sem três. Espero que o povo não tenha razão desta vez. Só assim será feita a justiça pela Daniela Padrino”, referiu o procurador do Ministério Público nas alegações finais.

O arguido, de 43 anos, responde por homicídio qualificado e condução perigosa.

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João Pedro Oliveira estava em liberdade condicional quando cometeu o crime. Antes tinha passado mais de 11 anos preso por matar uma outra ex-namorada à facada, em Castelo Branco, durante o ano 2009.

O arguido, que está em prisão preventiva, esperou que a vítima, Daniela Padrino, de 37 anos, saísse do trabalho e atropelou-a. Com o carro passou-lhe por cima sete vezes, sempre em movimentos para a frente para trás. Atingiu-a sobretudo na zona da cabeça. João Pedro Oliveira não se conformava com o final da relação que durou cerca de quatro meses. Terá ficado furioso ao saber que ela tinha uma nova relação e estava de casamento marcado.

No início do julgamento João Pedro diz que se recorda de dirigir o carro em direção à ex mas que depois “teve uma banca”.

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