BRINCADEIRA COM ÁLCOOL QUEIMA CRIANÇA DE 13 ANOS

Um estudante de 13 anos, que estava a fazer um 'cocktail molotov' com dois colegas, sofreu queimaduras de 2.º grau nas mãos e no pescoço, ao ser atingido por álcool a arder, ontem, em Santarém. Uma das outras crianças teve ferimentos ligeiros.

03 de dezembro de 2003 às 00:00
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A vítima, Bernardo, estaria a despejar álcool de uma embalagem acabada de comprar num supermercado para uma garrafa de vidro, quando um dos companheiros acendeu um isqueiro, provocando-lhe queimaduras. O acidente ocorreu a 500 metros da Escola Básica do 2.º e 3.º Ciclos de Mem Ramirez, junto à Praça de Touros de Santarém, pelas 14h30, quando as crianças estavam no intervalo da hora de almoço.

Os alunos envolvidos na brincadeira, pelo menos três, têm todos 13 anos e andam no 8.º ano de escolaridade. O álcool terá sido adquirido numa loja situada nas proximidades do estabelecimento de ensino, presumindo-se que os alunos teriam a intenção de fabricar uma 'bomba incendiária' para usarem em circunstâncias que as autoridades policiais ainda estão a investigar. Não foi possível apurar se, além do álcool e das duas garrafas, foram recolhidos outros materiais relacionados com o fabrico do engenho explosivo.

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Ao que tudo indica, o miúdo que pegou no isqueiro tê-lo-á acendido com o objectivo de "ver se funcionava e não sabia que os gases em evaporação, provenientes do álcool, poderiam causar problemas", disse um elemento da PSP de Santarém. "São crianças, não ganham juízo", lamentou o mesmo agente policial, frisando que os envolvidos "tiveram sorte em não ter sucedido algo de pior".

O Bernardo foi transportado pelos Bombeiros Municipais de Santarém para o hospital distrital local, onde foi assistido no Serviço de Urgência pelo cirurgião plástico Francisco Ribeiro Carvalho. O miúdo sofreu queimaduras de 2.º grau nas mãos, no antebraço esquerdo e na face anterior do pescoço, indicou o chefe de equipa da Urgência Geral, Nelson Rodrigues. A vítima está internada no Serviço de Pediatria e não corre perigo de vida, mas só com a evolução das lesões se poderá ter uma ideia das repercussões, em especial nas mãos, explicou Nelson Rodrigues, que considera as queimaduras pouco extensas.

A Associação de Pais da Escola Mem Ramirez esteve ontem à noite a debater este caso, tanto mais que deixou alguns dos alunos bastante traumatizados, chegando um dos que participaram na brincadeira a esconder um ferimento numa perna. Este aluno também acabaria por ser assistido no Hospital de Santarém. O Conselho Executivo da escola vai apurar o que aconteceu.

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"AS MARCAS FICAM PARA TODA A VIDA"

Helena Sacadura Botte, responsável da Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI), começou por não conseguir esconder o espanto. “Duas crianças queimadas? Hoje? Em Portugal?”. “Mas o que é que se passa?”, perguntou, um pouco mais tarde.

“Lembro-me apenas de um caso semelhante, há alguns anos, mas com uma criança mais nova”, referiu ao Correio da Manhã, lembrando que, apesar de idênticos, os dois casos são diferentes. “A situação de Santarém parece tratar-se de uma brincadeira que correu mal. Ainda assim, mostra que as crianças, por vezes, não têm noção das consequências.”

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Já sobre o caso registado em Beja, a responsável da APSI considera “grave” que envolva um funcionário da escola. “Se calhar, isto demonstra que, por vezes, não se conhece quem trabalha nas escolas”, sublinhou Helena Sacadura Botte, da associação. “Acredito que já exista um inquérito a decorrer para saber o que se passou”, acrescentou.

Independentemente das causas, Helena Botte lembrou que as consequências, físicas e psicológicas, acompanham as crianças para toda a vida. “Essas marcas vão determinar o crescimento dos jovens, o seu relacionamento com todos os outros miúdos”.

EPISÓDIOS SEMELHANTES

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REGADA

Um mulher de 58 anos foi agredida em Dezembro do ano passado, na Brandoa, Amadora. O alegado autor do ataque, o companheiro, de 56 anos, começou por espancá-la e, em seguida, regou-a com álcool, deixando-a em estado considerado grave.

MIÚDO

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Uma criança de 12 anos, residente em Caxinas, Vila do Conde, sofreu queimaduras ligeiras quando, de forma involuntária, um colega lhe pegou fogo. O caso, que ocorreu em Janeiro de 2001, deu-se após uma aula de ginástica e a vítima tinha álcool na perna.

IRMÃS

Uma rixa envolvendo duas irmãs que viviam juntas em Pousadora, Tabuaças, Vieira do Minho, terminou com uma das mulheres a regar a outra com álcool, ateando-lhe fogo em seguida. Na origem da discussão estará uma proibição de entrar no quarto.

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