Casal faz estudos para CIP e LNEC

Os estudos da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) e do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) sobre a localização do novo aroporto de Lisboa, que conduziram à mudança da obra da Ota para o Campo de Tiro de Alcochete, contaram com a colaboração de um casal de técnicos especialistas em engenharia ambiental: Júlio de Jesus. director-geral da Ecossistema, participou no trabalho da CIP e Maria do Rosário Partidário, professora do Instituto Superior Técnico (IST), colaborou no estudo do LNEC. Por causa da colaboração do marido no estudo da CIP, Maria do Rosário Partidário começou por recusar o convite do presidente do LNEC, mas, como Carlos Matias Ramos considerou que estava em causa “o interesse nacional”, a professora do IST acabou por aceitar ser assessora no trabalho deste organismo.

20 de fevereiro de 2008 às 11:00
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Júlio de Jesus integrou a equipa técnica do Ordenamento do Território no estudo da CIP, realizado no primeiro semestre do ano passado, e Maria do Rosário Partidário, professora Associada do Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura do IST, definiu a “metodologia de avaliação estratégica e integração dos contributos sectoriais” no estudo do LNEC.

Rosário Partidário e Júlio de Jesus confirmaram ao CM que são casados e deixaram claro que o presidente do LNEC fora, desde o início, alertado para a existência de uma eventual incompatilidade resultante da participação da professora do IST no estudo do LNEC. A própria Rosário Partidário justifica de forma simples a recusa inicial do convite de Matias Ramos: “por um lado, tinha a agenda sobrecarregada e, por outro, sabia que o meu marido tinha estado no estudo da CIP, e [esta situação] podia aparecer como uma possib ilidade de incompatibilidade”.

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À recusa inicial da professora do IST em aceitar o convite, Matias Ramos contrapuz um argumento convincente: “O presidente do LNEC dizia que o que ele queria só eu em Portugal podia dar e [o estudo] era um assunto de interesse nacional”, frisa Rosário Partidáro. Que remata: “o meu trabalho não influenciava de maneira nenhuma qualquer avaliação”. E “hoje, olhando para trás, não vejo qualquer incompatibilidade”.

Matias Ramos confirma que a situação dos dois especialistas“era perfeitamente conhecida desde o início e considerada totalmente irrelevante, atendendo à condição da professora Maria do Rosário Partidário de assessora da equipa numa das várias matérias em análise no Estudo do LNEC”. O ministro das Obras Públicas, Mário Lino, a quem o CM perguntou se conhecia a situação, limitou-se a dizer que “a escolha da equipa que fez o estudo comparativo foi da inteira responsabilidade do LNEC”.

Júlio de Jesus admite que esta situação “possa ser sensível”, mesmo sendo ele e a mulher muito conhecidos no meio da Engenharia Ambiental. E garante que “a nossa [Ecossistema] colaboração no trabalho da CIP foi muito pontual”.

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O director-geral da Ecossistema garante ainda que “ela [mulher] nunca levou documentos para casa e nunca falamos sobre o trabalho que o LNEC estava a fazer”. Por isso, remata, “estamos completamente de consciência tranquila”.

Júlio de Jesus é especialista em Engenharia Ambiental. Em 1987, foi um dos fundadores da Ecossistema - Consultores em Engenharia do Ambiente, de que é director-geral desde 1999. Licenciado em Engenharia do Ambiente na Universidade Nova de Lisboa, tem várias comunicações em conferências nacionais e internacionais e é co-responsável pela disciplina de Avaliação do Impacte Ambiental na Universidade Católica.

Maria do Rosário Partidário foi também fundadora da Ecossistema mas já saiu da empresa. Professora associada do IST, fez o doutoramento em Avaliação Ambiental a níveis estratégicos de decisão na Universidade de Aberdeen, na Escócia. Com um vasto trabalho na área do ambiente, integrou, em 1994, o grupo de trabalho de Avaliação do Impacte Ambiental do Programa das Nações Unidas para o Ambiente.

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LENA E MSF NA CORRIDA

A Lena e a MSF vão ficar cada uma com cinco por cento do consórcio Asterion para o novo aeroporto de Lisboa, revelou ontem Vasco de Mello, presidente da Brisa.

À margem da conferência sobre “o novo aeroporto de Lisboa: que modelo de desenvolvimento?”, o responsável da Brisa confirmou a entrada dos dois novos parceiros que se irão juntar à concessionária, à Mota-Engil, à Somague, ao BCP, ao BES e à Caixa Geral de Depósitos no único consórcio que foi confirmado até agora e que contará também com a Opway (antiga OPCA), participada do Grupo Espírito Santo. Vasco de Mello disse ainda que o agrupamento poderá contar também com um parceiro internacional do sector aeroportuário.

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"PERCEBER GRAU DE INTERVENÇÃO" (Fernando Santo, O. Engenheiros)

Fernando Santo desvaloriza a situação dos dois técnicos: “pessoalmente, não considero isso relevante”. Para o bastonário da Ordem dos Engenheiros, “há que perceber o grau de intervenção das pessoas”.

"SITUAÇÃO DEVIA SER DIVULGADA" (António Galamba, Deputado PS)

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António Galamba diz que está em causa uma “questão ética”. Para o deputado do PS, “mesmo que o profissionalismo das pessoas seja intocável, o LNEC devia ter divulgado a situação”.

"PROCEDIMENTO FOI CORRECTO" (Miguel Relvas, Deputado PSD)

Miguel Relvas considera que “o importante é a pessoa alertar o LNEC: essa é a prova de que estão de boa-fé”, até porque “o ser casado não pode ser impedimento”.

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"TUDO DEVE SER TRANSPARENTE" (Luís Fazenda, Deputado do BE)

Luís Fazenda, líder parlamentar do BE, diz que “todas as assessorias encomendadas pelo Governo devem ser transparentes, e essa situação em concreto [casal] devia ter sido evitada”.

O CM tentou obter junto do PCP e do CDS-PP comentários sobre a participação de Júlio de Jesus e Maria do Rosário Partidário nos estudos da CIP e do LNEC, respectivamente.

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Da parte do partido liderado por Jerónimo de Sousa, não houve comentários, uma vez que os comunistas desconhecem a situação em concreto. Do CDS-PP também não foi possível obter uma reacção política.

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