ESTEVE QUINZE MINUTOS SEM AR DURANTE O PARTO

A administração do Hospital Distrital das Caldas da Rainha abriu um inquérito interno para apurar as circunstâncias em que uma grávida entrou em coma durante o parto, por cesariana, depois de ter recebido uma anestesia geral. O recém-nascido encontra-se bem de saúde, mas a mãe, Margarida Lacerda, de 33 anos, está há dois meses acamada, em situação “instável”.

15 de abril de 2004 às 00:00
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“Ela mexe a cabeça, boceja, inspira, aperta-nos a mão de vez em quando, tem reacção nas pernas quando a tocamos, o que nos dá alguma esperança”, disse ontem Carmelita Lacerda, a mãe de Margarida, adiantando que ela chorou quando lhe foi mostrada uma foto do bebé.

A sua situação clínica aparenta registar uma ligeira melhoria, mas os familiares admitem que “só um milagre” a poderá fazer retomar a sua vida normal, devido às lesões cerebrais causadas pela falta de oxigénio.

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A mulher, monitora informática em Peniche, foi transferida ainda na noite do parto, 19 de Fevereiro, para a unidade de cuidados intensivos do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, tendo anteontem sido enviada para o Hospital de Peniche, mais próximo da sua residência, com a indicação de “acidente anestésico”.

O que parecia ser um parto normal, decorreu mal. “Deram-lhe uma epidural, para as dores, mas verificaram que o bebé estava com complicações cardíacas e resolveram metê-lo cá fora mais rápido através de cesariana”, contou ontem o marido, Paulo Sousa, adiantando que, no momento em que foi ministrada a anestesia geral, Margarida Lacerda “fez uma alergia à anestesia e sofreu uma paragem cárdio-respiratória”.

Os familiares estão indignados com o “tempo excessivo” que Margarida esteve sem oxigénio. Ana Lacerda, sua irmã, assegura ter lido uma ficha técnica colada na cama no Hospital Curry Cabral, que indica que sofreu uma “anóxia (falta de ar) de quinze minutos”.

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“Segundo o médico obstetra, ficou sem respirar porque fez um edema na glote, que fechou. Mas se ao fim de três minutos sem oxigénio se sabe que as células cerebrais começam a morrer, como é que demoraram quinze minutos a entubá-la para respirar, quando podiam ter feito uma traqueostemia (abertura da traqueia para passar o ar) de urgência”, questiona Ana Lacerda, que é enfermeira.

Para a irmã de Margarida, a “falha” estará na demora em regularizar a função respiratória, pois uma reacção alérgica “não se pode prevenir, a não ser que seja consequência de uma dose excessiva de anestesia”.

Quanto ao eventual uso de“propofol”, a substância activa do anestésico administrado no Hospital de Lagos, onde morreram duas pessoas, nenhumas informações foram reveladas sobre o assunto.

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De acordo com uma fonte hospitalar, a mulher pode ter sofrido uma “reacção anafiláctica”, como uma alergia à anestesia geral ou ao relaxante muscular ministrado ao mesmo tempo, mas só o processo de averiguações, ainda em curso, irá apontar as causas do agravamento súbito do seu estado de saúde.

O administrador do Hospital de Beja, Cunha Rego, manifestou ontem a sua disponibilidade para prestar esclarecimentos em Tribunal, caso se concretize a queixa-crime anunciada pelos familiares de um homem de 70 anos que morreu durante uma anestesia. O doente faleceu devido a uma reacção alérgica extrema à anestesia. Os familiares querem saber se existe relação deste caso com as mortes em Lagos.

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