Maioria dos padres não sabe Latim

A maioria dos padres já não sabe Latim, conforme afirma o próprio cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, numa carta dirigida aos sacerdotes da capital, na qual esclarece as condições necessárias para se celebrar missa naquela língua morta. No documento – que pretende explicar a Carta Apostólica do Papa Bento XVI, em que autoriza de forma extraordinária a celebração da Liturgia Católica segundo o Rito Romano –, D. José Policarpo refere a propósito que “esses sacerdotes devem considerar-se não idóneos para presidir à missa segundo o missal de 1962”.

16 de setembro de 2007 às 00:00
Maioria dos padres não sabe Latim Foto: Pedro Catarino
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“Nos últimos 20 anos, o ensino do Latim nos seminários ficou reduzido a um semestre, o que não dá para aprender nada. Sabe-se apenas o rudimentar da língua. É um fenómeno que abarca todo o País. Não é, de maneira nenhuma, suficiente para se celebrar uma missa em Latim”, explicou ao CM o padre Jardim Gonçalves, chefe de gabinete do Patriarca de Lisboa, explicando o porquê de o Latim ter caído em desuso: “É uma consequência natural dos tempos. Toda a liturgia que estava em Latim começou a ser traduzida para as línguas de cada país. Deixou de ser necessário, tal como aconteceu em outras vertentes da cultura não eclesiástica”.

Na carta, D. José Policarpo enumera uma série de parâmetros que têm de ser cumpridos para a celebração de uma missa em Latim. Além da questão da língua (ver apoios), o cardeal patriarca alerta os sacerdotes para a necessidade de terem em conta o bem dos fiéis, acrescentando que “um pároco não pode impor à Paróquia o Missal de 1962 apenas motivado pela sua perspectiva pessoal”. Deve discernir-se, escreve o cardeal, sobre “quantos são os fiéis, quais os motivos que os levam a pedir esta liturgia, que formação cristã e litúrgica possuem”.

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Jardim Gonçalves acrescenta que os pedidos de fiéis para realizar missas em Latim “são praticamente inexistentes”.

Na carta, Dom José Policarpo aborda ainda o problema dos espaços sagrados.

“O que se proíbe é que se comece a fazer obras nas igrejas, desnecessariamente, para se adaptar o espaço religioso à celebração da eucaristia em Latim. Que era feita com o sacerdote de costas voltadas para o povo”, rematou.

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José da Cruz Policarpo nasceu a 26 de Fevereiro de 1936, em Alvorninha (Caldas da Rainha), e foi feito Cardeal da Igreja Católica em 2001. Foi reitor da Universidade Católica Portuguesa, por decreto da Santa Fé, de 1988 a 1996. Em 2005, foi apontado como um forte candidato a suceder ao Papa João Paulo II. Homem de convicções fortes, reconheceu a derrota após a vitória do ‘sim’ no referendo ao aborto.

LÍNGUA LATINA

“Infelizmente muitos sacerdotes da nossa diocese já não sabem o Latim. Esses sacerdotes devem considerar-se não idóneos para presidir à Missa segundo o Missal de 1962. Se as circunstâncias pastorais o aconselharem, devem procurar-se sacerdotes que o possam fazer dignamente”.

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CANTO GREGORIANO

“Os textos do Missal de 1962 estão musicados em Gregoriano. A possibilidade de os cantar, com o mínimo de qualidade, deve ser condição para permitir missas comunitárias nesse rito”.

ESPAÇOS SAGRADOS

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“Fica proibida qualquer tentativa de alterações dos espaços, sobretudo do altar e do presbitério, por causa da possibilidade de celebrar o ritual de 1962.”

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