Morre sem ver Justiça pelo homicídio do filho
Jorge Nascimento foi morto em 1998, mas o suspeito apenas foi condenado no mês passado.
Durante 18 anos, René Nascimento lutou nos tribunais para ver ser feita Justiça pelo homicídio do filho, Jorge Nascimento, em 1998. O principal suspeito foi condenado, no início do mês passado, mas René entretanto faleceu em 2016, com 81 anos.
"Nos últimos dias de vida, só pedia mais dois anos para ver o caso resolvido", conta Fernanda Nascimento, mãe de Jorge Nascimento, que com o marido e restante família travou a batalha judicial. " Ele sempre teve a ideia de que o caso se resolveria. Emociona-me ainda mais pensar que ele morreu e não viu aquilo por que lutou quase 20 anos. Porque até hoje não temos vivido, temos sobrevivido", acrescenta Fernanda Nascimento.
O homicídio ocorreu em fevereiro de 1998. Jorge Nascimento, na altura com 27 anos, foi encontrado baleado na nuca, num terreno isolado em Monte Francisco, Castro Marim. Tinha sido sequestrado, no próprio carro, quando fazia a viagem entre o trabalho, no Instituto de Emprego e Formação Profissional de Loulé, e Faro, onde vivia com os pais. A viatura viria a ser encontrada em Espanha.
Inicialmente, pensou-se que se tratara de um ‘carjacking’ mas a investigação não produziu resultados e foi arquivada, em 2008. No entanto, três anos depois, um dos envolvidos confessou a participação no homicídio à namorada. E esta avisou as autoridades. Em julho de 2011, a PJ deteve três homens: C. L., suspeito da autoria dos disparos, e dois cúmplices, que ajudaram no sequestro. C. L. tinha tido uma relação com a então namorada de Jorge e não se conformava com o final.
Apenas a 6 de junho deste ano, após duas absolvições pelo Tribunal de Faro, o Tribunal da Relação de Évora condenou C. L. a 18 anos de prisão pelo homicídio. "Planeou a morte de Jorge Nascimento e agiu na concretização do plano de modo frio e calculado", diz o acórdão.
Confissão de crime a namorada levou à detenção do trio
As detenções ocorreram em 2011, após um dos cúmplices de C. L. ter contado à namorada que tinha estado envolvido num crime que levara à uma morte. A mulher falou com uma amiga que namorava com um inspetor da PJ e foi assim possível chegar ao trio. Em 1998, e até essa altura, as autoridades suspeitavam de que tinha sido um roubo - foi mesmo considerado o primeiro ‘carjacking’ no Algarve - até porque foram feitos levantamentos com os cartões de Jorge, após a morte.
Reconstituição foi desvalorizada pelo Tribunal de Faro
Após as detenções, os dois cúmplices de C. L. aceitaram fazer uma reconstituição do crime com a PJ. Este era um dos principais argumentos da Acusação mas o Tribunal de Faro considerou que a reconstituição não podia ser utilizada como meio de prova. Algo que o acórdão da Relação contraria, ao mesmo tempo que critica a forma como a primeira instância valorou outras provas.
19 anos passaram entre o homicídio, em 1998, e a condenação do suspeito, já este ano. Além de as detenções terem ocorrido apenas em 2011, em primeira instância, no Tribunal de Faro, os suspeitos foram absolvidos em duas ocasiões: em 2012 e 2014.
Cúmplices absolvidos
C. L. foi condenado a 18 anos de prisão e ao pagamento de 160 mil € aos pais de Jorge. Os dois cúmplices foram absolvidos do homicídio e os crimes de sequestro e ocultação de cadáver, que lhes poderiam ser imputados, já prescreveram.
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