MORTE LEVANTA DÚVIDAS

Foi num ambiente de grande consternação e dor que centenas de pessoas participaram ontem à tarde no funeral do bombeiro da secção de Paranho de Arca, no concelho de Oliveira de Frades, que faleceu na passada sexta-feira alegadamente devido a uma queda que sofreu no domingo (dia 18) na altura em que combatia um incêndio em Arcozelo das Maias, naquele concelho.

25 de agosto de 2002 às 23:23
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Frederico Farreca, comandante dos Bombeiros Voluntários de Oliveira de Frades está revoltado com a situação: "É uma vergonha o que se passou. O homem andou durante cinco dias no Centro de Saúde de Oliveira de Frades e no Hospital de Viseu e ninguém foi capaz de lhe detectar qual o problema de que padecia. Alguém é responsável por esta morte e nós, bombeiros, homens e amigos, queremos ver tudo esclarecido e saber o que realmente se passou. Um homem não pode estar tantos dias doente e ninguém conseguir tratá-lo nem dizer-lhe qual o problema. Nós e ele em particular que salvou muitas vidas, não teve ninguém que lhe valesse. É o País que temos".

A vítima, José Saraiva Vaz, construtor civil, tinha 44 anos, era casado e tinha duas filhas de 4 e 18 anos, esta última também bombeira que assistiu à queda do pai. Era considerado um bombeiro exemplar e é a ele que se deve a criação daquela secção de Paranho.

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DERRAME CEREBRAL

Fernando Farreca, segundo comandante dos voluntários de Oliveira de Frades, que estava a comandar os trabalhos no fogo onde se registou o acidente, contou ao CM como tudo se passou: "O fogo estava quase a passar uma estrada e tivemos necessidade de mover as viaturas e como o José era condutor deslocou-se para o seu carro e é nessa altura, com muito fumo, que ele cai. Foi a filha que nos avisou. Levámo-lo para o Centro de Saúde de Oliveira de Frades, puseram--no a soro e passado algum tempo mandaram-no para casa. No dia seguinte e na terça-feira, ele disse-nos que não conseguia dormir e que sentia muitas dores na cabeça. Na quarta-feira, volta ao Centro de Saúde e dali é transferido para o Hospital de Viseu onde realizou um TAC e ficou internado. Na quinta--feira entrou em coma profundo e acaba por falecer na sexta-feira às 15h30. O que se terá passado e as causas da morte, nós não sabemos".

De acordo com o que o CM apurou, derrame cerebral provocado por um traumatismo craniano terá sido a causa da morte do bombeiro, que foi ontem a enterrar numa cerimónia que contou com a presença de Luís Pais de Sousa, secretário de Estado Adjunto do Ministro da Administração Interna, e ainda de representantes do Serviço Nacional de Bombeiros, Liga dos Bombeiros Portugueses e de bombeiros de várias corporações da região.

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O CM tentou ontem falar com responsáveis do Centro de Saúde de Oliveira de Frades e do Hospital de Viseu, mas as tentativas revelaram--se infrutíferas, dado tratar-se de um domingo e não estar ninguém disponível para o efeito.

O APURAMENTO DE RESPONSABILIDADES

As circunstâncias que rodearam a morte do bombeiro José Saraiva Vaz, da secção dos Bombeiros Voluntários de Paranho de Arca, no concelho de Oliveira de Frades, estão a suscitar uma reacção da Liga dos Bombeiros Portugueses, cujo presidente do Conselho Executivo, Duarte Caldeira, em declarações ao Correio da Manhã, disse pretender "ver esclarecidas, para que não fiquem dúvidas e as responsabilidades sejam apuradas".

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Aquele responsável adiantou que, "ao tomar conhecimento das circunstâncias que rodearam o falecimento do bombeiro voluntário de Oliveira de Frades e dado que essas poderão, eventualmente, configurar uma cadeia de negligências de que resultou a sua morte, a Liga dos Bombeiros Portugueses já se disponibilizou junto da associação e da família para apreciar as adequadas diligências do foro jurídico e judicial, para apuramento de eventuais responsabilidades".

Entretanto, o presidente do Serviço Nacional de Bombeiros, João Lima Cascada, lamenta a morte do soldado da paz, "para mais quando as causas estarão ligadas a um acidente sofrido no combate a um incêndio", disse.

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