MP investiga construtora

Jovens morreram em lagoa artificial num terreno privado. Empresa já tinha sido notificada para drenar o local. Ministério Público procura responsáveis.

22 de abril de 2010 às 00:30
MP investiga construtora Foto: Manuel Moreira
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O Ministério Público de Sintra já abriu um inquérito-crime para apurar responsabilidades pela morte dos dois alunos da Escola Gama Barros, anteontem, numa lagoa artificial com cerca de quatro metros, no Cacém. Maximiano Calenda e Manuel Muya, 14 e 16 anos, mergulharam e já não conseguiram salvar-se. Ao que o CM apurou, os responsáveis da empresa de construção Pimenta e Rendeiro, SA, proprietária do terreno, deverão ser ouvidos e podem ser acusados do crime de homicídio por negligência grosseira, punível com uma pena de prisão até cinco anos, por omissão do dever de cuidado em relação àquela lagoa. Isto porque, segundo o próprio presidente da Câmara de Sintra, Fernando Seara, há cerca de três semanas que o departamento de fiscalização da autarquia já tinha notificado a construtora para a drenagem.

Agora, os familiares das vítimas não se conformam com a tragédia e querem uma resposta não só da empresa, mas também da escola. 'O meu filho não tinha autorização para sair da escola a meio das aulas. Ele morreu e agora ninguém quer assumir responsabilidades'. Alberto Calenda, pai de Maximiano, garante que o filho estava inserido nos Serviços de Acção Social da escola, que lhe dava direito às refeições sem pagar e que, portanto, não assinou qualquer documento que permitia o filho sair da escola em tempo de aulas.

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'Não nos vamos calar. Toda a gente sabia que os miúdos iam para aquele local e nada foi feito', diz, revoltado. Manuel Muya também não tinha autorização para sair. António Gouveia, presidente da escola, admitiu que os alunos saíam à hora de almoço: 'eles podiam sair porque estavam autorizados pelos pais', garante. A escola disponibilizou ajuda psicológica para alunos e pais e irmãos de ‘Max’ e Muya.

PORMENORES

PIMENTA E RENDEIRO SA

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A empresa Pimenta e Rendeiro, SA está vocacionada para a construção e urbanismo e foi criada em 1969. É uma das maiores construtoras do concelho de Sintra.

REGRESSO AO LOCAL

De acordo com os amigos, já não era a primeira vez que os jovens seguiam para a lagoa. 'O Muya tinha ido no dia anterior e gostou.'

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FAMÍLIA EM CHOQUE

Os pais dos jovens não se conformam. 'Só queria o meu filho', disse Lídia, mãe de Muya.

EMPRESA FECHA LAGOA

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A empresa de construção Pimenta e Rendeiro SA já fechou a lagoa onde morreram os jovens afogados, anteontem à tarde, no Cacém. Ontem, vários camiões da construtora descarregaram toneladas de terra para evitar mais acidentes. Contactados pelo CM, nenhum dos responsável da empresa se mostrou disponível para comentar a situação. De referir que foram vários os colegas de ‘Max’ e Muya que salientaram que já não era a primeira vez que os jovens se divertiam naquele local. Aliás, vários alunos concentraram-se, ontem à tarde, junto ao portão da escola para protestar contra 'a falta de segurança'. Ao contrário dos outros dias, os jovens foram obrigados a passar o cartão magnético de estudante sempre que saíam. 'Às vezes, de manhã, tinha de apresentar o cartão. Agora o controlo é tanto que até chegamos atrasados às aulas', disse uma aluna.

'NÃO SABIA NADAR E MESMO ASSIM ATIROU-SE'

Igor era um dos muitos rostos que ontem se concentravam em frente à Escola Gama Barros, no Cacém, para homenagear os dois amigos. 'O Max não sabia nadar e mesmo assim atirou-se. Já não conseguimos fazer nada, infelizmente'.

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'Quando ele estava a afundar-se ligámos logo para o 112, mas a chamada caiu. De repente deixámos de os ver', relatou, emocionado. 'Mas ele disse que sabia nadar e por isso ninguém o impediu de mergulhar. Nunca pensámos que isto pudesse acontecer ao Manuel e ao Max', continuou. Ontem de manhã, a tristeza era evidente nos rostos de todos os alunos, que foram vestidos de preto para assinalar o luto.

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