“Não tive coragem de ir ver a frente do comboio”

Vínhamos a combinar o que iríamos fazer quando chegássemos ao Porto. Estávamos a falar de almoçar na zona de Campanhã quando o comboio abrandou. Sentimos uma turbulência, parecia que ia parar, mas não foi o que aconteceu. De repente, vimos toda a gente a saltar à nossa volta."

Fábio Santos, de 28 anos e residente em Pombal, narra assim o episódio que viveu na manhã de ontem, poucos minutos depois de embarcar em Vigo com a namorada, no comboio ‘Celta’, com destino à Invicta. O impacto atirou Fábio e a namorada, Catarina, ao chão. "A nossa carruagem era a última. Toda a gente saltou. Consegui segurar as nossas coisas, por sorte estávamos com as malas no chão. A nossa carruagem foi a que teve menos gente ferida, mas ainda vi muitas pessoas muito maltratadas", contou ao CM Fábio, a partir do Hospital de Nossa senhora de Fátima, em Vigo, onde Catarina estava internada ao final da tarde de sexta-feira.

"Tive mesmo muita sorte. Escapei sem nada de especial, só algumas nódoas negras do impacto. Ela também saiu do comboio pelo próprio pé, até estava melhor do que eu, que fiquei em estado de choque. Mas depois começou a sentir dores nas costas e foi deitada numa maca e levada ao hospital. Sente dores, ainda não sabemos bem o que ela tem", explica.

Fábio estava de férias e foi ter com a namorada a Espanha, onde esta tinha completado há poucos dias um estágio profissional . Depois de uma semana de lazer na Galiza, estavam a regressar a Portugal, num comboio apinhado de turistas. "Vinham muitos espanhóis, mas também muitas pessoas de outras nacionalidades. Havia muita gente a falar inglês no comboio", explica Fábio.

Ciente da violência do embate, quando saiu para a linha após o acidente desviou o olhar das carruagens da frente. "Não tive coragem de olhar para a frente do comboio. A nossa carruagem estava mal, mas até parecia muito boa comparada com o resto da composição."