O americano do Corgo
"Demorei sete anos para comprar esta máquina a carvão. É o meu sonho realizado.” Assim exprimia o seu estado de alma João Morais, um luso-americano, radicado em Manassas (Washington), ao ver, ontem de manhã, a menina dos seus olhos ser içada por uma grua de 227 toneladas, na estação de Peso da Régua.
Depois de ter comprado a Estação de Tâmega, na linha do Corgo, à CP, e recuperado o edifício em 2002, adquiriu agora uma peça única do património ferroviário a vapor desta antiga via estreita.
O carregamento da velha locomotiva Henschel e Sohn E-212 a vapor, que circulou na via férrea do Corgo até finais de 1980, começou por volta das 10h00 e demorou cerca de hora e meia. Foi comprada à REFER, por este empresário da construção civil de 57 anos.
João Morais seguiu com muita emoção e alguma ansiedade todas as operações de carregamento da máquina a vapor e justificou a sua “perdição” pela ferrovia. “Estudei em Chaves e ia sempre de comboio da minha aldeia para a cidade. Assim nasceu a paixão pelos comboios da linha do Corgo.”
A vontade deste empresário vai mais longe e garante ao CM que, se a REFER aceitar, compra “uma carruagem e um carrinho de mão de carril”. Para a realização deste “sonho”, “transporte e aquisição da máquina”, João Morais desembolsou mais de cem mil euros!
Depois de carregada na estação da Régua, num veículo de grandes dimensões, a locomotiva seguiu com destino à antiga estação ferroviária do Tâmega (Chaves), numa viagem pela A24, que demorou algumas horas.
Depois foi colocada durante a tarde junto à estação de Tâmega, freguesia de Curalha, Chaves. A E212 (na altura inserida numa série considerada como das mais potentes da via estreita) vai ser recuperada ao nível da sua estrutura e pintura. Trabalho que deverá estar pronto até final do ano.
O luso-americano chegou a propor em 1992 à CP a aquisição do troço desactivado entre Vidago e Chaves, cerca de 20 quilómetros de via férrea, bem como todas as estações e apeadeiros. O objectivo era manter a linha activada com a circulação de dois comboios turísticos.
Porém, em 1998, João Morais conseguiu alcançar o seu objectivo e, por cerca de 125 mil euros, ficou com a velha estação de Tâmega construída em 1920.
PROPOSTA RECUSADA
Apresentou em 1992 uma proposta à CP para comprar o troço entre Vidago e Chaves. O objectivo era manter a linha activada com a circulação de dois comboios turísticos, mas a CP e algumas autarquias não gostaram muito da ideia.
SONHO REALIZADO
Depois de um anúncio público de venda da CP, em 1998, João Morais conseguiu alcançar o seu sonho e, por cerca de 125 mil euros, comprou a velha estação, construída em 1920, situada junto ao rio Tâmega.
O FIM DO COMBOIO
Já lá vão 18 anos, quando o comboio deixou de apitar entre Vila Real e Chaves. Foi o fim de uma era, de mais de oito décadas, que deixou saudades a muita gente.
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