OPERAÇÃO PRESTIGE SEM FIM À VISTA

O comandante Augusto Ezequiel, director técnico do Instituto Hidrográfico, traça o futuro da maré negra, um mês após o naufrágio do petroleiro ‘Prestige’.

16 de dezembro de 2002 às 00:00
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Correio da Manhã – Qual é o ponto da situação da Operação 'Prestige'?

Comandante Augusto Ezequiel – Nas próximas 48 horas as previsões são favoráveis a Portugal, devendo as áreas de poluição manter-se em águas espanholas. Segundo o último voo da Força Áerea Portuguesa a zona de poluição estava já, em parte, em águas espanholas. Nas últimas horas, a poluição esteve a cerca de dez quilómetros a Oeste de Caminha, tendo então sido recolhidos 80 mil litros de material pelo navio norueguês 'Corona', apesar da agitação do mar.

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– O pior já passou?

– Sim, em relação às manchas libertadas quando do afundamento do “Prestige” a maior parte do fuelóleo já aterrou na costa Galega.

– E o que irá suceder às 50 mil toneladas submersas?

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– Não é possível fazer previsões, os afloramentos resultantes após o afundamento têm sido dispersos nas águas e podem vir dar à costa portuguesa. Não há nada que indique o contrário.

– Quais os meios envolvidos nesta operação?

– O Instituto Hidrográfico conta com 15 homens na realização das previsões de direcção das áreas de poluição. No total os meios da Armada e da Força Aérea envolvem várias centenas de efectivos, bem como várias fragatas, corvetas, dois aviocar e um Orion P-3, para além das embarcações que fazem a recolha do fuelóleo: o navio norueguês 'Northern Corona' e o 'Schultz Xavier'.

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– É previsível quando irá terminar esta operação?

– Se alguém soubesse a resposta se calhar já teria sido encontrada a solução. Poderá levar vários meses ou anos, ninguém sabe se o navio irá libertar todo o fuelóleo.

– O trabalho do Instituto Hidrográfico tem sido seriamente elogiado pelas autoridades galegas. Qual o princípio que tem norteado o vosso trabalho?

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– Disponibilizamos publicamente toda a informação. Assim poderemos ajudar as pessoas para poderem operar no combate desta tragédia no terreno.

– Quando é que a tensão foi mais forte entre os homens do Instituto?

– Logo após o afundamento do navio em que se libertou uma grande mancha, trabalhámos das 7h00 às 23h00. Hoje a situação é mais calma, mas 70 por cento do nosso trabalho tem por objectivo o 'Prestige'.

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– Como homem do Mar o que sente ao ver as imagens provenientes da Galiza?

– O mesmo que qualquer pessoa. Esta é uma tragédia, quer do ponto de vista ambiental, como para as populações.

– O 'Prestige' consciencializou os portugueses sobre a insegurança de centenas de navios passarem diariamente ao largo da costa. Esse perigo existe?

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– Como qualquer acidente, quer no mar quer em terra, ninguém está preparado para ele. Não sei se algum dia teremos a segurança das seguranças.

– Esta é uma operação diferente do trabalho realizado em Castelo de Paiva?

– Esta é um operação totalmente diferente. Os destinatários estão mais descentralizados. Em Castelo de Paiva houve uma maior localização no trabalho, que eram as pessoas directamente interessadas, os familiares das vítimas.

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A acção em Castelo de Paiva foi mais complicada?

– Em termos psicológicos foi bem mais complicado. Lidámos diariamente com o drama e sofrimento das pessoas.

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