PASSEIOS FICARAM À BORLA

Os dois voos ilegais realizados pelo helicóptero estacionado em Lamego não foram apontados na folha de registos do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC), pelo que “não houve encargos para o Estado”, garantiu ontem ao Correio da Manhã João Marques, coordenador distrital de Viseu.

22 de novembro de 2003 às 00:00
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“Os dois voos que se realizaram ilegalmente não foram pagos pelos nossos serviços”, afirmou João Marques, garantido que o seu pagamento “é da responsabilidade da empresa” proprietária do helicóptero.

O inquérito realizado pelos inspectores do SNBPC na sequência do escândalo das ‘viagens turísticas’, cujo resultado noticiámos ontem, explica que os dois voos se efectuaram quando a aeronave estava ao serviço dos bombeiros, entre as 08h00 e as 19h00.

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Em consequência do inquérito, o presidente do SNBPC ordenou a instauração de processos disciplinares aos dois bombeiros que naqueles dias coordenavam o Centro de Meios Aéreos de Lamego (CMAL). Trata-se de Fernando Rodrigues, 2.º comandante dos Bombeiros Voluntários de Lamego, e de Artur Longra, comandante interino dos Bombeiros de Tabuaço.

Fernando Rodrigues, confrontado ontem com o resultado do inquérito, recusou fazer “qualquer tipo de comentário” sobre “o assunto do helicóptero” adiantando desconhecer “o processo disciplinar”. Por apurar está o destino do segundo voo ilegal, que seria da sua responsabilidade.

Por seu turno, Artur Longra confirmou anteontem ao nosso jornal que o helicóptero levantou voo no dia 8 de Setembro, às 16h00 – em plena hora de serviço – para lançar flores durante a procissão de Nossa Senhora dos Remédios.

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“O piloto disse que era habitual e eu alinhei. Fiz tudo de boa-fé”, afirmou Artur Longra, acrescentando que naquele “fatídico” dia, não era para estar a coordenar o CMAL: ”Troquei o serviço com o comandante de Ervedosa do Douro. Foi muito azar”, desabafou o comandante.

O nosso jornal apurou que, no dia 8 de Setembro, o helicóptero afecto ao combate a incêndios, além de ter lançado flores na procissão de Nossa Senhora dos Remédios, também serviu noutro acto de “gentileza”.

O piloto terá decidido lançar um ramo de flores a uma familiar de um comandante de bombeiros da zona que naquele dia festejava o aniversário.

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Este voo realizou-se às 20h00, logo não foi considerado “ilegal” pelos inspectores do SNBPC responsáveis pela investigação.

O ministro da Administração Interna afirmou ontem que não conhecia o resultado do inquérito e, como tal, não fazia qualquer comentário sobre estes dois processos a bombeiros, que se juntam a dois levantados antes.

“Ainda não tive ocasião de ver o inquérito e como é natural o facto de terem anunciado que foi concluído não significa que o ministro já tenha decidido sobre ele”, afirmou Figueiredo Lopes.

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O coordenador distrital de Viseu nomeou os comandantes dos Bombeiros Voluntários de Salvação Pública de São Pedro do Sul e de Penedono como inquiridores dos dois processos.

João Marques espera que a investigação “seja célere”, para que rapidamente “a paz e a estabilidade regressem aos quartéis”.

ESCÂNDALO PROVOCA DEMISSÕES

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A instabilidade e os problemas emergiram na corporação dos Bombeiros de Lamego, em particular, e no sector do socorro, em geral, a 26 de Setembro, quando a SIC noticiou que o helicóptero afecto à corporação lamecense servia para viagens turísticas.

O caso atingiu contornos escandalosos porque se estava no final de um Verão trágico – os incêndios destruíram mais de 400 mil hectares de floresta e provocaram a morte a 20 pessoas – e houve muita gente que se queixou de falta de meios para combater as chamas.

Desde essa altura, demitiram-se ou foram afastados o presidente do SNBPC, o coordenador distrital de Viseu e o vereador da Protecção Civil da Câmara de Lamego. O comandante dos Bombeiros de Lamego, Nuno Carvalho, foi suspenso, mas regressou ao serviço, aguardando as conclusões de um inquérito de que foi alvo.

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