Prostituição é profissão

A psicóloga Alexandra Oliveira, autora do livro "Andar na vida: prostituição de rua e reacção social" defende que a prostituição é uma profissão. "Se há pessoas que fazem desta actividade um trabalho, com regras, horários, rendimentos, não a reconhecer é negar-lhes direitos", sustenta. "Mantê-la como se não existisse não é justo para as pessoas que a fazem nem contribui para acabar com a estigmatização", refere.

12 de outubro de 2011 às 10:18
Alexandre Oliveira, prostituição, Almedina Foto: Carlos Ferreira
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Pode discutir-se se a melhor forma é a legalização ou a regulamentação, desde que, considera Alexandra Oliveira, se olhe para a prostituição "como uma profissão que, não sendo como as outras, deve ter os mesmos direitos".

A psicóloga considera também que não há um "trajecto-tipo" que antecipe a prostituição, mas geralmente a "opção" surge quando há "um acontecimento marcante" na vida das pessoas em causa, como ficar viúva ou grávida, reflecte a investigadora Alexandra Oliveira, autora de um livro a ser lançado, amanhã, quinta-feira.

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Esta é uma das conclusões que se podem retirar do livro "Andar na vida: prostituição de rua e reação social", editado pela Almedina, que será apresentado no Plano B, no Porto, pelas 22h00, e no dia 18 em Lisboa, na Livraria Almedina do Atrium Saldanha.

O livro adapta a tese de doutoramento de Alexandra Oliveira, professora auxiliar da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, e será apresentado no Porto por Henrique Barros, coordenador nacional para a Infecção VIH/sida.

Com esta pesquisa, Alexandra Oliveira, a primeira a doutorar-se em Portugal com uma tese sobre prostituição, pretendeu ajudar "a desmontar estereótipos e crenças erradas sobre a prostituição e as prostitutas de rua".

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A autora "imergiu durante cinco anos no terreno da prostituição de rua no Porto, sendo que, na fase mais intensiva e sistemática da investigação, permaneceu na rua a uma média de três dias por semana, chegando a ficar 12 horas seguidas em contexto, observando, ouvindo, interagindo e entrevistando" os "actores que habitam o mundo da prostituição", resume a editora na sinopse do livro.

Em declarações à agência Lusa, Alexandra Oliveira explicou que o livro é um "trabalho de continuidade", mas apresenta também algo de novo sobre "como surge a prostituição na vida das pessoas", em resultado das várias entrevistas que a autora fez ao longo da investigação.

"A primeira conclusão é que não há um trajecto-tipo que prediga a entrada na prostituição. Mesmo dentro da prostituição de rua as histórias são todas singulares", assinala, referindo como exemplo que "nos últimos anos o número de migrantes entre os trabalhadores do sexo passou de residual a muito expressivo".

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Existem também "características comuns", por exemplo "um ponto de viragem ou de ruptura" prévio à "opção" pela prostituição, "geralmente um acontecimento marcante que faz com que as pessoas equacionem as suas vidas, como a morte do marido ou uma gravidez", explicita.

Aliás, "a dimensão familiar das prostitutas" é um dos objectos da investigação. "As trabalhadoras do sexo têm maridos, companheiros, namorados, amantes, filhos, pais e irmãos; têm uma rede familiar e não vivem num mundo à parte", esclarece Alexandra Oliveira, desconstruindo "dois dos mais arreigados estereótipos relativos às pessoas que fazem trabalho sexual: os companheiros das prostitutas não são seus proxenetas; a maioria das prostitutas é mãe, tem com os filhos fortes ligações afetivas e protege-os e afasta-os do mundo da prostituição".

Não duvidando de situações de prostituição forçada ou coagida, a investigadora realça que não as encontrou durante a sua investigação, o que a levou a confirmar a ideia de que "há sempre uma escolha" naquilo que é "um acto consentido entre adultos".

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