Tragédia com três mortos na linha de comboio sem culpados
Inquérito do Ministério Público foi arquivado e a responsabilidade é imputada às vítimas.
Três anos após a morte de três jovens, colhidos por um comboio quando grafitavam outro, no apeadeiro de Palmilheira/Águas Santas, na Maia, o inquérito foi arquivado. Em causa estavam os crimes de homicídio por negligência, omissão de auxílio e atentado à segurança de transporte.
O Ministério Público (MP) imputa às três vítimas a responsabilidade pela morte e considera que o revisor, ao lançar para o exterior o pó de um extintor, agiu na defesa dos passageiros e das próprias vítimas, após ter gritado para os jovens saírem da linha.
Ao que o CM conseguiu apurar, é indicado que João Dias, de 18 anos, teria tido tempo suficiente para fugir para a berma e não pelo meio da linha - onde foi colhido e projetado 45 metros para um monte de silvas. A Jaime e Enrique, dois espanhóis de 20 e 18 anos que estavam com o jovem português, é imputada a responsabilidade por se terem deitado na linha, acabando por ser mortalmente atropelados.
O arquivamento refere que a nuvem de pó do extintor nunca tirou a visibilidade das luzes do comboio que colheu os jovens e que a sua aproximação era percetível pela vibração no solo. Maquinista e revisor alertaram o comando operacional da CP, que lhes deu ordem para prosseguir viagem - a composição que colheu as vítimas parara e havia já pessoas na linha a averiguar.
Entende o MP que os jovens tiveram uma conduta perigosa, violando o dever de defesa da própria vida. João, Jaime e Enrique estavam com dois outros jovens espanhóis, a quem também não é imputada a omissão de auxílio. Retiraram da linha os concidadãos inanimados - um deles ainda vivo, mas em paragem cardiorrespiratória - e fugiram perante a aproximação de agentes da PSP. Os bombeiros chegaram 3 minutos depois.
A João Dias era imputado o crime de coação, por ter aberto uma porta do comboio parado, com uma chave de quadra, e atirado pedras para a entrada, sendo que alguns passageiros chegaram a temer tratar-se de um assalto ou ataque terrorista.
O MP refere o "acontecimento avassaladoramente triste", as imprudências juvenis e o sofrimento de todos os envolvidos.
"A saudade vai-me matando aos poucos"
Entretanto, os pais das duas vítimas espanholas pretendem pedir a abertura da instrução do processo. "Ao fim destes anos e de uma investigação muito detalhada, outra decisão se esperaria aqui", referiu ao CM Vasco Leal Cardoso.
O advogado diz que os pais reagiram ao arquivamento com "estupefação e indignação".
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