Tribunal de Beja tenta em janeiro ouvir testemunhas de acusação de agente da PSP
Tribunal vai aguardar pela resposta da embaixada portuguesa em Kiev ao pedido para notificar as testemunhas ucranianas.
O Tribunal de Beja adiou esta sexta-feira para 09 de janeiro de 2023 a última tentativa para ouvir testemunhas estrangeiras no caso que envolve um agente da PSP acusado de agredir e torturar um trabalhador agrícola ucraniano.
"Não podemos encerrar a discussão da causa, sem ter todos os elementos disponíveis", justificou a juíza que está a julgar o processo, na sessão do julgamento realizada esta manhã, depois de anunciar o adiamento das audições.
Segundo a magistrada, o tribunal vai aguardar pela resposta da embaixada portuguesa em Kiev, na Ucrânia, ao pedido para notificar as testemunhas ucranianas que estarão naquele país e disponibilizar meios para que sejam ouvidas através de videoconferência.
Já a defesa do agente da PSP assinalou que "a maioria das testemunhas", que se encontrarão no estrangeiro, "não foi notificada" e, quanto às que responderam, faltaram à sessão, considerando que se trata de "prova muito difícil ou impossível de obtenção".
Nesse sentido, a advogada de defesa defendeu que o julgamento deveria avançar para as alegações finais, alegando que o arguido tem "direito a uma decisão célere" do tribunal, o que foi rejeitado pela juíza.
O agente da PSP, acusado da prática do crime de tortura e outros tratamentos cruéis, degradantes ou desumanos, chegou a estar suspenso, mas, de acordo com fontes policiais, já se encontra ao serviço.
Segundo o despacho de acusação, consultado pela Lusa, o arguido, um agente principal da PSP afeto à Esquadra de Trânsito do Comando Distrital de Beja, abordou e pediu a identificação, na madrugada do dia 12 de novembro de 2019, numa rua perto do hospital da cidade, a um grupo de 11 imigrantes -- 10 ucranianos e um romeno - que esperava transporte para o trabalho.
O agente da PSP, "de forma exaltada e exalando um forte cheiro a álcool", dirigiu-se aos imigrantes "sempre em língua portuguesa", pelo que alguns tiveram "dificuldades na compreensão", e chamou-lhes nomes ofensivos e injuriosos, pode ler-se.
O elemento policial "agarrou" a vítima para a levar para a esquadra e algemou-a, "ao ponto de lhe causar dor e desconforto", descreve a acusação, assinalando que o imigrante se sentiu "atemorizado" e "não manifestou qualquer resistência, nem manifestou oposição".
Segundo o MP, o arguido dirigiu o carro até à Esquadra de Trânsito e, no espaço adjacente, retirou da viatura o imigrante e fê-lo "ficar assente com os joelhos no chão".
Aí, questionou-o, com "puxões e encontrões", e depois, já "mais exaltado e irritado", começou "a bater no corpo" do ucraniano, desferindo-lhe "pontapés, pancadas com os seus punhos e utilizando um objeto rígido com a forma de bastão".
O MP indica que a vítima, que se manteve algemada e "sem oferecer resistência", ficou "no chão a gemer e a contorcer-se", e que o arguido questionou a razão das queixas e voltou a gritar e a "bater-lhe com as suas mãos".
O imigrante ficou no chão, algemado e a gemer até à chegada de três agentes do Comando de Beja da PSP, que o "auxiliaram a levantar-se e a deslocar-se para próximo da porta da esquadra", onde foi identificado, sendo depois libertado. Devido a dores e indisposição, deslocou-se às urgências do hospital.
O arguido escusou-se a prestar declarações no interrogatório, mas, no auto de identificação, escreveu que, no dia dos acontecimentos, o imigrante se colocou à frente da viatura da PSP com as mãos na cintura, afirmou que gostava de brincar com a polícia e disse que não tinha documentos de identificação.
Já a vítima, que voltou à Ucrânia, onde foi ouvida pelas autoridades policiais daquele país, negou ter feito provocações e disse que nenhum dos elementos do grupo de imigrantes recusou mostrar documentos.
A próxima sessão do julgamento está agendada para o dia 09 de janeiro de 2023, às 14h30.
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