Vítima de ex-marido absolvido por violência doméstica conta ameaças de morte a si e aos filhos
Relação anula sentença do Tribunal de Vila Verde que absolveu ex-marido. Mulher relata 24 anos de terror.
"Aos 44 anos, estou a reaprender a viver. Tenho o apoio dos meus filhos e da minha família, mas, ainda assim, vivo com medo porque ele ameaça que me mata a mim e aos meus filhos." O discurso é interrompido pelas lágrimas, que Ana não quer deixar cair.
Viveu 24 anos de maus-tratos físicos e psicológicos às mãos do marido, que diz ser "possessivo, impulsivo e cruel". Após o divórcio, que enfrentou em 2016, a vítima avançou com queixa por violência doméstica. Ficou aterrorizada com a absolvição do ex-marido, no último verão, no Tribunal de Vila Verde.
A esperança de Ana e dos dois filhos - de 13 e 24 anos - renasceu agora com a decisão do Tribunal da Relação de Guimarães, que anulou a sentença por entender que está "eivada de incompreensibilidade". O julgamento será repetido e, por determinação dos juízes da Relação, não será o Tribunal de Vila Verde a fazer o novo julgamento. Para João Magalhães, advogado da vítima, é "o renascer de nova esperança na Justiça".
As agressões, físicas e verbais, ocorreram durante todo o casamento, indica a acusação. E Ana foi espancada logo nas primeiras semanas de vida conjunta. "Vivi um inferno. Era insultada, humilhada e espezinhada. Na primeira coça que me deu, estávamos juntos há três meses. Fiquei desmaiada na rua", recorda. A mulher, que nunca trabalhou nem podia ter telemóvel, foi ainda agredida quando estava grávida do primeiro filho.
O arguido continua vigiado, com pulseira eletrónica.
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